A RÚSSIA NO MUNDO E NA COPA DO MUNDO

ARTIGO DO PROFESSOR JOSÉ MARIA DE SOUZA JUNIOR

Grandes eventos esportivos são uma oportunidade de projetar países internacionalmente. Esse aspecto possui dois lados: ao mesmo tempo que se trata de uma capitalização de apoio político (interno e externo), também abre espaço para críticas expondo o país e suas fragilidades.José Maria de Souza Jr.

A Rússia sediou os jogos Olímpicos de Inverno em Sochi em 2014 e, neste ano, sediará a Copa do Mundo. Neste evento os olhos do mundo se voltam para o futebol e para o país que sedia os jogos. Geralmente, as Copas do Mundo custam mais do que o previsto e acabam não se pagando. Apesar de fazerem a economia local girar, quem realmente lucra com o campeonato é a FIFA. Independentemente disso, a atenção que o Mundial gera pode ser usado de maneira estratégica, além disso, sua simbologia é significativa. É muito comum ver infográficos, matérias de jornal e televisivas a respeito dos países que recebem a Copa do Mundo. Este material geralmente ressalta aspectos dos mais diversos, incluindo questões políticas, econômicas e culturais.

Seguindo os preceitos do autor clássico das Relações Internacionais, Edward Carr, os Estados Nacionais buscam poder em três dimensões: a militar, a econômica e a sobre opinião. A Copa na Rússia, em termos do poder sobre opinião, promove a projeção internacional e fomenta o orgulho nacional interno. Obviamente apenas eventos esportivos não são suficientes para moldar uma imagem acerca de um país, principalmente de um país com as dimensões (não só territoriais) da Rússia, mas esta é uma parte da estratégia de poder sobre opinião tanto do ponto de vista doméstico quanto no âmbito internacional e, neste sentido ajuda na construção da imagem que determinado Estado quer ter aos olhos de outros atores no sistema internacional.

Vladimir Putin, neste sentido, tenta mitigar sua crescente centralização de poder com essa projeção, mostrando uma Rússia moderna com infraestrutura adequada e riquíssima do ponto de vista cultural e histórico. Esses elementos atingem o alvo: reforçam o orgulho nacional e a curiosidade alheia.

Neste sentido, as fragilidades que estão em jogo podem ser observadas no cerceamento da liberdade de minorias (como os homossexuais), o combate ao nacionalismo da Chechênia, o autoritarismo de Putin, as desigualdades dentro do país e até a suposta interferência nas eleições dos Estados Unidos. Contudo, estes são eventos políticos que podem passar batido quando se trata da empreitada em vender a Rússia como país imponente, estruturado e próspero.

Quase trinta anos após o fim da Guerra Fria, a Rússia tenta dizer que jamais caiu, ou que sua queda foi temporária. Suas ações recentes no sistema internacional corroboram essa ideia: a tomada da Criméia e o apoio ao regime de Bashar Al Assad na Síria são os exemplos.

Em um tempo onde a defesa dos valores democráticos é preterida quando confrontada com outros valores nas sociedades, como o crescimento e o bem-estar econômicos, a Rússia consegue fazer bonito no papel de cativar sua imagem para o mundo “pós-democrático”.

Para a Rússia, trata-se de recuperar um lugar perdido no sistema internacional depois da Guerra Fria. Para o mundo, trata-se de conhecer algo a mais de um país cujo modo de agir ainda não é compreendido pelo ocidente. A Copa é apenas uma parte da estratégia russa no mundo.

José Maria de Souza Junior, professor do curso de Relações Internacionais da Unità Faculdade.

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