ARTIGO – A INDÚSTRIA DO CONHECIMENTO E O MERCADO DE DISPLAYS

*Por Victor Pellegrini Mammana
 
Deslumbrados
com os maravilhosos e gigantescos televisores oferecidos nas prateleiras das
lojas, quase esquecemos de que o sonho dos aparelhos de grande área, leves,
delgados e de baixo custo só se tornou realidade recentemente, à custa de muito
esforço de cientistas, engenheiros, técnicos e administradores. A transposição
dessa barreira deu-se com a demonstração dos primeiros protótipos de displays
de 14 polegadas, em 1988, ainda que estes não tivessem viabilizado de imediato
as tevês propriamente ditas. No entanto, eles se tornaram o marco de uma nova
era, como vetores para a criação de novas aplicações, caso dos computadores e outros
equipamentos móveis, que revolucionaram o comportamento e as formas de
relacionamento humano.

Que privilégio
é acompanhar os fascinantes avanços científicos de engenharia e da manufatura
que tornaram os displays delgados a mais bem sucedida tecnologia a emergir dos
laboratórios para o mercado nos últimos 40 anos. Vimos o início e o crescimento
dessa nova classe de indústria que, por suas características peculiares, ainda
não pôde ser muito bem entendida quanto à dinâmica de sua competição. A
escalada dos displays delgados revela-se no crescimento de seu mercado mundial
que, de US$ 24,6 bilhões, em 2000, já ultrapassou US$ 120 bilhões em 2008. Os
mercados brasileiro e latino-americano acompanham esse aumento global de
consumo, o que deve incrementar o desequilíbrio da balança de pagamentos
nacional do setor eletroeletrônico, em que os displays têm um peso significativo no custo.

Diferentemente
dos setores industriais convencionais, esta é uma indústria baseada em
conhecimento (knowledge-driven) e que
ela compreende uma verdadeira comunidade internacional composta não apenas dos
competidores asiáticos, mas de seus parceiros, fornecedores e clientes
distribuídos globalmente. Conhecer a dinâmica dessa nova indústria e os
desafios enfrentados em sua gestão é imperativo para quem se dispõem a
participar dessa atividade econômica global que, por tão intensiva em
conhecimento, demanda novas formas de pensar a indústria, a competição e a
gestão estratégica. O desafio central dessa indústria tem sido a gestão do
pessoal e das parcerias internacionais que permitem a geração, a proteção e a
transferência do conhecimento na medida em que são criados novos produtos e
novas gerações fabris antes que outros o fizessem.

Os desafios
para os tomadores de decisão dos governos e do setor de negócios são os de
manter uma base tecnológica saudável internada nos países, num mundo em que a
inovação depende cada vez mais do acesso aos processos globais de criação do
conhecimento. Para enfrentá-los, há que se examinar o processo criativo que
sustenta tanto as inovações tecnológicas como as organizacionais. É importante
tirar lições do motivo da concentração geográfica dessa indústria, desde seus
primórdios – foi intensa no Japão e ainda permanece na Ásia – e de como
indivíduos e organizações interagiram de modo a conseguir contribuir em
primeira mão para a acumulação de conhecimentos.

Três
características fundamentais podem ser identificadas como responsáveis pelo
sucesso nessa competição: continuidade, aprendizagem e rapidez. As empresas que
assumiram a liderança foram as que implementaram processos tecnológicos e de
gestão calcados nesses atributos, garantindo quase nenhum intervalo entre o
anúncio dos protótipos e as decisões de fazer os altos investimentos nas linhas
de fabricação e nos processos de manufatura necessários para levar os produtos
ao mercado. Venceram as empresas que deixaram de lado as recomendações
negativas baseadas em modelos financeiros.

Foi a
frenética interação na inovação de processos e produtos, no Japão, nos anos 90,
que permitiu o aumento da área dos displays ao mesmo tempo em que eram
reduzidos os custos para alcançar o mercado em massa. A aprendizagem e a
velocidade caracterizaram os esforços das companhias para confrontar o paradoxo
de aumentar os investimentos ao mesmo tempo em que eram pressionadas a reduzir
custos. Não menos importante foi a flexibilidade de abertura das políticas e
práticas de governos e corporações no sentido de privilegiar as parcerias
globais para a criação do conhecimento.

É importante o
Brasil aproveitar essas lições, se pretende participar desse processo de
criação de conhecimento, estendê-lo e aproveitá-lo na criação de novas
indústrias knowledge driven em outras
áreas econômicas. Um importante instrumento de apoio à implementação da política
industrial do governo para displays, inclusive para atrair e mobilizar as
empresas que devem compor a base industrial brasileira capaz de atender à
demanda crescente por displays, especialmente em TV e telefonia, é o LatinDisplay,
que será realizado em São Paulo, entre os dias 26 e 30. Abrangendo ciência, tecnologia,
manufatura e as questões econômicas e estratégicas para displays, a 25ª versão
do evento ocorrerá em conjunto com o International Display Research Conference
(IDRC 2012) da Society for Information Display.
  • Pesquisador-doutor,
    diretor do Centro de Tecnologia de Informação Renato Archer (CTI), em
    Campinas (SP), e vice-coordenador do LatinDisplay 2012/IDRC 2012. E-mail: [email protected]
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