QUESTÕES ESSENCIAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA

18 de dezembro de 2015.

ARTIGO DO PROFESSOR JOÃO BAPTISTA VILHENA

Dias atrás, em uma
aula do MBA em Gestão Comercial da Fundação Getulio Vargas – curso que tenho o
prazer e privilégio de coordenar – comecei a conversar sobre características
que considero básicas para o sucesso das lideranças. Gostaria de compartilhar minha
visão com você e convidá-lo a fazer o mesmo, me enviando seus pontos de vista
sobre o assunto.
Acho que é essencial
que o líder tenha coragem, inteligência, disciplina e humildade. Para
justificar essas virtudes, gostaria de primeiro explicar como as entendo.
Em primeiro lugar,
quero deixar claro que coragem não é o antônimo de medo. Diga-se de passagem,
acho que pessoas totalmente desprovidas de medo são inconsequentes (e não
corajosas). Pense em alguém que não tem medo de nada atravessando a rua em uma
metrópole. O que vai acontecer? A pessoa morrerá atropelada. Para mim coragem é
a virtude de enfrentar o medo, sem se deixar paralisar por ele, mas também sem
desconsiderar que, ao nos acautelar perante situações arriscadas, o medo nos
torna prudentes e contribui para que sejamos mais sensatos.
Já a questão da
inteligência exige um certo conhecimento etimológico para ser devidamente
contextualizada. A palavra inteligência é formada a partir da conjunção de duas
palavras latinas: INTER + ELEGERE. De maneira mais literal significa “escolher
d’entre”. Ou seja, a inteligência é a capacidade de fazer escolhas.
Pessoalmente eu costumo dizer que o grande desafio que enfrentamos ao utilizar
nossa inteligência não é fazer as escolhas, mas sim lidar as renúncias que são
inerentes ao ato de escolher. Explico melhor. Ao nos depararmos com a
possibilidade de escolher, invariavelmente estamos perante mais de uma opção. O
problema nem sempre é fazer a escolha, mas sim abrir mão das opções que fomos
obrigados a descartar.
Entendo disciplina
como sendo o comportamento baseado em compromisso. Isso significa que
disciplinada não é a pessoa que faz sempre as mesmas coisas, nas mesmas
situações. Mas sim aquela que faz as coisas porque entende que tem o
compromisso de fazê-las. Um exemplo são as pessoas que conseguem mudar seus
hábitos de vida porque estão comprometidas com a ideia de ter uma velhice mais
tranquila. Ou aquelas que pagam todos os impostos não porque o governo as
fiscalize, mas sim porque acreditam que esse é o seu papel e dever como cidadão
(acredite, existem pessoas assim, mesmo aqui no Brasil).
Entendo humildade
como sendo a noção dos próprios limites. Para mim humilde não é o subserviente,
o acanhado, o tímido. Saber distinguir as coisas das que você dá conta daquelas
que você não é capaz de gerenciar é o sentido que empresto a essa desgastada
palavra.
Uma vez definidos os
termos – como a boa filosofia recomenda que se faça sempre – tentarei propor
maneiras de desenvolver cada uma dessas “virtudes” da liderança.
Quem não tem coragem
não consegue liderar. O mesmo pode ser afirmado sobre quem não tem medo.
Para desenvolver a
coragem é preciso aprender a lidar com o perigo. Isso significa não procurar se
esconder atrás de artifícios comumente utilizados pelos mais medrosos. Um
exemplo interessante é o fenômeno do group thinking (ou pensamento grupal),
bastante discutido quando se debate processo decisório. Sinteticamente podemos
dizer que o group thinking desmente a crença popular de que as decisões coletivas
são sempre melhores que as individuais (lembra do ditado “duas cabeças pensam
melhor do que uma?). Existem inúmeros casos que evidenciam que, ao transferir
para o grupo a responsabilidade de decidir sobre questões críticas, o que se
acabou conseguindo foi tomar decisões equivocadas.
Também é preciso
desenvolver a coragem de manter um ponto de vista mesmo quando somos acusados
de “donos da verdade” e “inflexíveis”. Nem sempre é fácil defender opiniões.
Mas se não houvesse pessoas convictas de suas verdades, não haveria cinema
falado nem telefone, pois seus inventores foram duramente castigados com
acusações de arrogância ou presunção porque naquela época o senso comum dizia
que ninguém queria som nos filmes ou falaria com alguém sem olhá-lo nos olhos.
Muitos autores têm
falado sobre inteligência aplicada a liderança. Pessoalmente acho essa uma das
mais importantes discussões sobre o tema. Vou tentar, com um exemplo,
evidenciar como se pode desenvolver a capacidade de fazer as escolhas certas.
Talvez você já tenha
tido a oportunidade de ler o livro Motivação 3.0, do Daniel Pink. Nele o autor
afirma que as pessoas estão permanentemente desejosas de oportunidades para se
desenvolver. Será isso verdade? Recentemente conversei com diretores de RH que
reclamavam do baixíssimo índice de visitação as plataformas de
autodesenvolvimento de suas empresas. Milhares (às vezes milhões) de reais
haviam sido investidos e a taxa de utilização se mantinha muito pequena. Creio
que nesse caso falta a compreensão de um fato brilhantemente analisado por
Erich Fromm em seu imperdível “Medo à liberdade”: a maioria das pessoas não tem
drive nem disposição para gerenciar sua evolução profissional. E o que fazer?
Aceitar, pura e simplesmente? Acho que não. O importante é aprender a
distinguir o joio do trigo, apoiando e incentivando quem demonstra querer
evoluir e respeitando aqueles que se sentem satisfeitos com o que sabem.
Quanto a ser
disciplinado, sinceramente acho que é algo que, como se diz no interior “vem de
berço”. Posso perceber como algumas pessoas lutam tenazmente contra a sua
própria indisciplina, mas são derrotados pela própria inércia. Você pode até me
perguntar se eu acredito que seja possível ensinar alguém a ser disciplinado.
Minha resposta vai ser que possível é, mas também é muito difícil.
Por último a questão
da humildade. Meu melhor conselho é que cada um se conheça suficientemente bem
para não cair na tentação de pensar ser o super-homem, capaz de tudo dominar.
Mas também não aceite com facilidade quando as pessoas quiserem lhe impor seus
pontos de vista. Pessoalmente eu procuro me defender das imposições tendo uma
visão tecnicamente defensável daquilo que discuto. Isso ajuda muito. Também
ajuda muito não querer discutir coisas que você não entende, pois estará sempre
em um campo minado.
João Baptista Vilhena
é Consultor Sênior do Instituto MVC. 
Trinta anos de experiência profissional em Treinamento, Consultoria e
Coaching, nas áreas de Educação, Gestão, Marketing, Negociação, Vendas e
Distribuição. Mestre em Administração pela FGV e pós-graduado em Marketing pela
ESPM/RJ. Coordenador acadêmico do MBA em Gestão Comercial da FGV. Já atendeu
mais de 109 empresas nacionais e multinacionais de diversos setores.
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