
O aumento da dificuldade de acesso ao crédito imobiliário por construtoras e incorporadoras foi um dos principais temas debatidos na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, realizada recentemente sob a liderança de Eduardo Zaidan, vice-presidente da entidade. O encontro reuniu especialistas e representantes do setor para discutir os desafios atuais da construção civil, com destaque para os entraves financeiros e o cenário macroeconômico.
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), apresentou dados que revelam uma elevação significativa nas barreiras ao crédito. Segundo a economista, embora o mercado de habitação permaneça aquecido, impulsionado pela ampliação do programa Minha Casa, Minha Vida com a criação da faixa 4, o crédito com recursos da poupança (SBPE) tem registrado queda expressiva, principalmente no financiamento à produção. Os recursos estão sendo redirecionados à aquisição de imóveis, o que reduz a capacidade de expansão das incorporadoras. “O problema não está no volume total de crédito, que representa cerca de 10% do PIB, mas sim em seu custo elevado devido às taxas de juros ainda altas”, explicou Castelo. Ela destacou que, apesar do aumento no uso de alternativas como o home equity, a dificuldade persiste também em áreas como infraestrutura, que seguem com tendência de declínio no crédito.
Além disso, outras fontes de financiamento, como os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), embora utilizados por algumas construtoras, devem encarecer com o aumento da tributação do Imposto de Renda. Os instrumentos como LIGs (Letras Imobiliárias Garantidas) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), por sua vez, têm participação limitada no financiamento habitacional, uma vez que parte dos recursos permanece represada nos bancos.
Apesar das dificuldades de financiamento, o setor da construção vem apresentando dados positivos. Ana Castelo informou que o PIB da construção acumulou alta de 4,5% nos 12 meses encerrados em março, superando o crescimento de 3,5% do PIB nacional. O consumo de cimento subiu 4,6% nos cinco primeiros meses do ano, em comparação ao mesmo período de 2024.
O mercado de trabalho formal também mostrou desempenho positivo. O número de trabalhadores no setor cresceu 3,4% no primeiro quadrimestre, com destaque para os serviços especializados. Em São Paulo, o saldo de empregos da construção foi o melhor dos últimos três anos, puxado por serviços e infraestrutura, enquanto edificações apresentaram retração.
Os custos, contudo, seguem pressionando o setor, especialmente em São Paulo, onde a mão de obra tem impactado significativamente os indicadores de inflação da construção.

Na avaliação do professor Robson Gonçalves, da FGV, o cenário inflacionário brasileiro permanece resistente, o que exigirá um ciclo mais prolongado de juros elevados por parte do Banco Central. Ele alertou para os riscos de agravamento da inflação em razão do contexto internacional, como o conflito Israel-Irã e possíveis impactos no mercado de petróleo, e fatores internos, como a desorganização fiscal e o aumento das despesas obrigatórias no orçamento público.
Gonçalves criticou a atual condução das contas públicas e defendeu a urgência de uma reforma fiscal. “O problema é institucional e não favorece a gestão macroeconômica. Isso deve nos levar aos trancos e barrancos até a eleição de 2026. Minha esperança é que algum candidato minimamente votável trate dessas questões com prioridade, começando pela fiscal”, afirmou.

Zaidan também expressou preocupação com a instabilidade geopolítica e suas possíveis consequências para o Brasil, como o fechamento do Estreito de Ormuz, via estratégica para a importação de ureia iraniana insumo fundamental na produção de fertilizantes —, o que poderia pressionar ainda mais os preços internos.

Por fim, Eduardo Capobianco, representante do SindusCon-SP junto à Fiesp, chamou a atenção para o desequilíbrio entre os gastos sociais e os investimentos em produção e infraestrutura. Segundo ele, a atual distribuição de renda, embora importante do ponto de vista social, pode gerar mais inflação sem impulsionar o crescimento econômico sustentável.
Diante desse cenário complexo, o setor da construção civil se vê desafiado a manter o ritmo de crescimento com custos crescentes, crédito mais caro e instabilidade econômica e política no horizonte.
Foto 1 – Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre.
Foto 2 – Professor da FGV, Robson Gonçalves.
Foto 3 – Eduardo Zaidan, vice-presidente do SindusCon-SP.
Foto 4 – Eduardo Capobianco, representante do SindusCon-SP junto à Fiesp.
Crédito: Divulgação.