CAMPINAS RECEBE O ESPETÁCULO ME DÁ A TUA MÃO COM CLOVYS TORRES

Campinas (SP) recebe neste final de semana no sábado (23/02), às 21h e no domingo (24/02), às 19h, no Teatro Castro Mendes o espetáculo ‘Me dá a tua mão’, fruto da pesquisa sobre memória que o ator Clovys Torres desenvolve há anos e cujo primeiro trabalho foi o também solo ‘Maria Mucuta’, encenada por ele mesmo entre 2000 e 2004, onde Ella relembrava a sua vida à espera DELE. Na época, o ator ouviu mais de 500 pessoas, especialmente idosos, a respeito de suas memórias e alegrias e construiu o texto em sala de ensaio com muitas das memórias e sensações que tinha de seus avós.

Depois veio o espetáculo ‘O Convite de Casamento’, com Lilian Blanc e Walter Portella que ficou em cartaz por anos.

Em ‘Me dá a tua mão’ o ator utiliza um acordeom e um berrante para apresentar uma narrativa que serve como detonador de memórias. “À medida que as personagens revelam suas emoções, a platéia mergulha em suas memórias particulares e esta é a grande poesia deste trabalho. Cada um imaginar suas próprias paisagens, suas emoções, a partir da provocação do narrador que desnuda momentos e personagens próximos a qualquer pessoa que estiver assistindo”, observa Clóvys Torres.

O trabalho de construção do texto e das cenas levou meses, foram feitos ensaios públicos e debates abertos desde o primeiro momento, passando por escolas, grupos de estudiosos, convidados ecléticos, sempre com bate papo, até fechar o texto e uma ideia de narrativa desta história a ser adaptada a qualquer espaço e formato, grande ou pequeno. Posteriormente se deu a entrada do premiado diretor Amir Haddad. “O Amir fez uma desconstrução de tudo que eu estava fazendo, me trazendo fortemente a questão da narrativa e do não teatro ou do teatro depois do teatro, como ele diz. Em resumo, a questão da verdade do ator, da entrega, da não representação. É um trabalho que não termina nunca, pois terá sempre provocações e desconstruções vindas do mestre Amir e da minha própria inquietude como ator-autor. Portanto, é uma peça que segue um fluxo de constante pesquisa e renovação e isso era o que eu desejava.  Uma história que jamais estará pronta e sempre em constante evolução”, observa Torres.

Sinopse

Trata-se de mais uma história de amor.  Uma narrativa que une o sertão ao mar. Um homem recebe visitas em sua casa enquanto a mulher dele, chamada Ella, pede sua mão insistentemente no quarto.  A história deste casal revela as personagens de toda a família, seus amores, tristezas e sonhos.

O espetáculo estreou na capital paulistana em 01 de julho de 2017 e até hoje passou por 28 cidades brasileiras, além de Assunção, no Paraguai. Em cartaz em São Paulo atualmente, cumprindo sua quinta temporada na Sala Orquidário do Café Pimenta Romã, o solo, em abril, irá para o Parque das Ruínas, no Rio de Janeiro e seguirá para os EUA em maio e depois para Portugal.

O que diz a crítica

O crítico do Jornal Estado de S. Paulo, João Cury, classificou o espetáculo de “Beleza pura”. A Folha de S. Paulo indicou as temporadas na cidade de São Paulo como o melhor em cartaz.  O crítico, Mauricio Mellone, observa: “Mais do que o relato do relacionamento entre um homem e uma mulher, o monólogo atinge as pessoas por tocar em temas profundos e tão próximos de cada um de nós, como amor, inveja, envelhecimento, solidão, vida e morte, o destaque do espetáculo é para a interpretação de Torres, que envolve e emociona a todos.”

E Luis Carlos Merten, também repórter e crítico do Jornal O Estado de S. Paulo, escreveu: “Clóvys conta uma história – de perdas e superação. O filho, o menino que foi dormir no fundo do mar e eu não pude deixar de pensar em Alfonsina. Por lablanda arena que lambe el mar… A mulher, o pai…O lamento do berrante. Fiquei magnetizado naquela hora e 15. Clóvys constrói/desconstrói seu drama com o mínimo de elementos. Tapete, cadeira e sua roupa de príncipe, que ele bordou… Puta ator charmoso, viril. Encarna o masculino e o feminino. É brechtiano – subordina sua emoção à técnica.”

O ator

Formado em Comunicação Social, com especialização em jornalismo literário,o ator Clovys Torres é também autor. Com mais de dez peças escritas e um livro de poecontos (Curva de Vento-2016), o ator tem se dedicado à dramaturgia e ao constante exercício e busca de um teatro mais autoral. Atualmente em cartaz com a peça ZIBALDONE, com textos de Giacomo Leopardi e direção de Aimar Labaki, ele tem emendando um trabalho em outro. Foi assim Moscarda (2010-2013), de Luigi Pirandello, direção de Valeria Lauand; Carretel (espetáculo de dança), dirigido por Rubens Oliveira e Sergio Ignacio e com Amores Urbanos (três textos, um de sua autoria, dirigido por Clarisse Abujamra, outros de Marcelo Rubens Paiva e Mario Bortollotto, com direção dos mesmos), que ficou em cartaz entre 2014-2015; Esperando Godot, de Samuel Becket, dirigido por Elias Andreato (2016-2017).

Clovys é autor de textos montados com Rosi Campos e Arllete Montenegro, dirigidas por Jairo Mattos (Retrato Emoldurado – 2009); Trem das Onze (dirigido por Cida Moreira – 2000), Maria Mucuta (dirigido por Weber Reis-2002-2005) e dois espetáculos em fase de montagem: Cafe Paris, a ser dirigido por William Pereira e Corações de Alcachofra, dirigido por Vivien Buckup.

É um apaixonado por literatura e teatro e durante dez anos promoveu o projeto Letras Em Cena, no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.  Realizou ainda O Atores e Poetas por dois anos na Casa das Rosas, e o Dose Dupla, que unia entrevista, musica e performance junto ao maestro Miguel Briamonte, entre outros.

O diretor

O diretor Amir Haddad é artista singular no cenário brasileiro que transitar com a mesma desenvoltura entre produções mais  convencionais e megaespetáculos populares.  Defensor do “teatro depois do teatro”, ele  está em constante atividade. Atualmente assina a direção e adaptação  Antigona, de Sofocles, com Andréa Beltrão; também assina a supervisão de Alma Imoral, com Clarice Niskier e coordena seu grupo Ta Na Rua, no Rio de Janeiro.

Em 1957, interrompe a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, onde tem como colegas José Celso Martinez Corrêa (1937) e Renato Borghi (1937), que o convidam para dirigir Cândida, de Bernard Shaw (1856-1950). Participa da criação do Teatro Oficina, trabalhando em A Ponte, de Carlos Queiroz Telles (1936-1993), e Vento Forte para Papagaio Subir, de José Celso Martinez Corrêa, ambas em 1958. Em 1959, ainda com o Oficina, participa, entre outras, de A Incubadeira, de José Celso Martinez Corrêa, que lhe vale seu primeiro prêmio de melhor direção.

Desligando-se do Teatro Oficina, segue em 1961 para Belém, no Pará, realizando uma série de trabalhos para a Escola de Teatro de Belém. Em 1965, o Teatro Universitário Carioca o convida para dirigir O Coronel de Macambira, de Joaquim Cardozo (1897-1978), e Amir acaba por permanecer no Rio de Janeiro. Lá é um dos fundadores do grupo A Comunidade, instalado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), que se projeta em 1969 com o espetáculo A Construção, de Altimar Pimentel (1936-2008), atribuindo a Amir o Prêmio Molière de melhor direção. Em 1970, realiza mais dois espetáculos com o grupo: Agamêmnon, de Ésquilo (525 a.C.-456 d.C.), e Depois do Corpo, de Almir Amorim. No mesmo ano, ganha o segundo Molière, com O Marido Vai à Caça, de Georges Feydeau (1862-1921).

Em 1980, funda o Tá na Rua, fazendo apresentações de rua baseadas em cenas de criação coletiva. Em 1984 estreia com o grupo o espetáculo Morrer pela Pátria, de Carlos Cavaco (1878-1961), encenado por mais de três anos, contribuindo para a pesquisa de demolição da linguagem do teatro convencional do conjunto, que desemboca no seu trabalho de teatro de rua.

Realiza, também, trabalhos no teatro comercial, que lhe valem o Prêmio Shell por Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) e Ferreira Gullar (1930) em 1989; e o Prêmio Sharp, por O Mercador de Veneza, de William Shakespeare (1564-1626), em 1996. Dirige, ainda de Shakespeare, Noite de Reis, em 1997; e O Avarento, de Molière (1622-1673), em 2000.

Dirige grupos alternativos na década de 1970 fundamentando uma linha de trabalho significativamente pesquisada por essa geração: disposição não convencional da cena; desconstrução da dramaturgia; utilização aberta dos espaços cênicos; e interação entre atores e espectadores. Essa linha de pesquisa se sedimentará no seu trabalho como diretor a partir da fundação do Tá na Rua, em 1980, grupo que encabeça até hoje no Rio de Janeiro com diversas montagens e intervenções públicas.

 

Fotos 1 e 2 – O ator Clovys Torres

Crédito: Antonio Lopes

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