COLUNA DA TANTAS COMUNICAÇÃO COM ANA PAULA ANGELINI

A sabedoria de
Neruda

 Ana Paula Angelini

Toda forma de arte exige muito
estudo, foco e dedicação. A escrita e a música, por exemplo, podem ter vários
aspectos em comum. Algumas pessoas acham que é um dom e que só nascer com ele
basta, mas não. É preciso muitas horas de prática, entre erros e acertos, até
chegar ao tom ideal.

Recentemente, visitei uma das casas
do poeta Pablo Neruda, na cidade de Valparaíso, no Chile. Chamada de La
Sebastiana, o local é fascinante e hoje funciona como um museu com os pertences
do poeta. Nesta ocasião, além de aprender mais sobre a história e as manias do
ganhador do Nobel de Literatura de 1971, me surpreendi ao descobrir um pouco
mais da rotina de Neruda.

Entre todas as atividades que ele
desenvolvia, o poeta dedicava várias horas do dia para escrever, mas isso não
significava, necessariamente, que ele conseguia produzir um poema por dia, nada
disso. Para o poeta, este hábito disciplinava o cérebro e, de certa forma,
facilitava a fluência na hora de organizar as palavras e colocá-las no papel.
Não basta só a inspiração, é preciso também treinar e estudar para escrever bem. 
O dom pode possibilitar uma certa facilidade para desenvolver a atividade, mas
ninguém chega à perfeição sem treino e dedicação diária.

Saber escrever e tocar um
instrumento, por exemplo, são artes que exigem atualização constante, seja de
conhecimento teórico ou prático. Entre acordes, arranjos, regências, infinitas
regras gramaticais (e suas exceções), concordância verbal e nominal é preciso
dedicação. Não tenho talento para a música, mas como jornalista acho que não há
perfeição ao escrever um texto, mas sim aperfeiçoamento contínuo.

Depois de tanto disciplinar o
cérebro, concluiu Neruda: “Escrever é fácil. Você começa com uma letra
maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias”. E
dizendo assim, até parece fácil…