COLUNA DO JORNALISTA VIEIRA JUNIOR

Ganhamos o jogo, mas perdemos a
Copa!
Vieira Junior
Copa do Mundo, Brasil, 2014, jogo de estreia.
Brasil e Croácia duelam para ver quem sairá vencedor no primeiro jogo do
torneio. A partida está empatada e é disputada com um equilíbrio enorme. As
chances de êxito para as duas equipes são claras e tudo pode acontecer. Toma
lá, da cá! Um ritmo empolgante para que gosta do bom futebol. Então, eis que,
de repente, uma bola é tocada na área e um jogador de camisa amarela, ao
dominá-la, cai malandramente sem qualquer interferência do adversário. Esperto,
maroto, malandro é malandro, mané é mané. O juiz apita pênalti. A trapaça entra
em cena e o gol acontece. Pronto, estamos vencendo. A partir de então, o Brasil
arranca rumo à vitória. Malandro! Levou vantagem, é isso aí! Aqui, é assim que
se faz. Como sempre, ganhamos no jogo, mas perdemos na ética e no moral. E o
mundo inteiro, que veio para conhecer o Brasil da Copa do Mundo, acabou vendo o
Brasil de todos os dias logo no primeiro dia da visita, sem cortesias nem
cerimônias.
Há quem diga que essa visão é um tanto quanto rude.
Mas ela é defendida não com base no que pensamos sobre nós mesmos, mas como os
outros nos veem. A imprensa internacional repercutiu o fato e os veículos mais
importantes do mundo chegaram a chamar a atitude de “roubo” e “falta de moral”.
O The New York Times, por exemplo, publicou uma reportagem essa semana
condenando a tentativa de jogadores enganarem a arbitragem e afirmou que os
norte-americanos se dão mal no futebol por não saberem simular faltas como os
rivais. “Onde a desonestidade é a melhor política, o futebol dos Estados
Unidos cai rápido”, dizia o título da matéria.
A imagem não é importante? Talvez não quando se
fala das preferências pessoais. Aos jovens é até bonito e questão de identidade
se mostrar diferente perante a sociedade. Porém, quando se trata da imagem de
um país e, principalmente, de negócios, até então o grande chamariz da Copa,
essas questões fazem muita diferença na decisão de investidores.
Errar sempre foi proibido no mundo dos negócios.
Com a economia globalizada e disputada centavo a centavo, isso se acentuou de
forma gigantesca e o acerto passou a ser resultado de muito estudo e
planejamento. A expansão dos mercados passou a ser quase que sinônimo de
crescimento e credibilidade para as companhias. É bonito colocar em uma
apresentação em Power Point que a organização está presente em 10, 20 ou 30
países. É a imagem falando no mundo das cifras!
Nesse cenário, tudo é minuciosamente estudado para
prevenir imprevistos. As decisões são tomadas de forma estratégia e tudo é
levado em consideração em uma decisão de investimento: economia local,
condições climáticas, mão de obra, políticas governamentais, condições sociais,
mercado e até mesmo a cultura do povo. É nesse ponto, que Fred nos prejudicou.
O Brasil possui a imagem de país de gente malandra
há algum tempo. A Lei de Gerson surgiu em 1976. O jogador que teve o ápice de
sua carreira na com o título da Copa do Mundo de 1970, apregoava em um
comercial as vantagens de se levar vantagens em tudo e fazer o errado parecer
certo. Em 2002, o atacante Luizão também simulou um pênalti, marcado pelo
árbitro. Na ocasião, Brasil saiu vencedor do jogo e da Copa. O curioso é que,
na transmissão de Brasil e Croácia, no último dia 12 de junho, Galvão Bueno,
Ronaldo e Casagrande recordaram o fato e se orgulharam tanto do feito passado
como do ocorrido naquele momento, mensagem transmitida a milhões de
brasileiros. Era o errado se tornando certo a qualquer custo. 
Pode não ser tão claro, mas histórias como essas
arranham a imagem do país e colocam certa apreensão em quem quer, de fato,
conhecer e investir no Brasil. Quem garante para um empresário ou governo
estrangeiro que, ao fazer negócio com os brasileiros, no meio do jogo, com tudo
equilibrado e acertado, alguém não vai ser “malandro”, cair na área e levar
vantagem? No jogo dos negócios, os resultados não ficam apenas na choradeira
das arquibancadas e os prejuízos são em cifras e milionárias. 
“Arriscar com o Brasil? É melhor não”, assim podem
pensar os empresários ao analisar o comportamento demonstrado por alguns
brasileiros e divulgado pelos meios de comunicação que parecem se orgulhar do
“jeitinho” dado às coisas. Os fracos resultados da economia demonstram isso. Há
tempos que só o setor de serviços, em geral uma atividade doméstica, cresce em
nosso país. A indústria, que atrai investimentos estrangeiros, novas
tecnologias e desenvolvimento sustentável, definha a cada dia. Culpa de Fred,
Gerson, Luizão e das pessoas que fazem da Copa e todas as outras oportunidades
cotidianas um verdadeiro modo de levar vantagem. Pessoas que ganham o jogo sem
perceber que estão perdendo o campeonato.

Vieira Junior, jornalista, pós-graduando em
administração e empresas pela FGV
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