COLUNA DO JORNALISTA VIEIRA JUNIOR

14 de agosto de 2014.

Por
que está faltando água?
Vieira Junior
Límpida, incolor. A junção entre dois átomos
de hidrogênio e um de oxigênio. Indispensável à vida. Segundo cientistas e
pesquisadores, tudo começou através dela. Segundo a religião, também. A própria
bíblia diz, nos primeiros capítulos do livro de Gênesis, que, no início, “o
espírito de Deus movia-se sobre as águas” (Gên.1:2). Salgada, doce, salubre.
Simplesmente água. Mas por que ela já está faltando nas torneiras de milhares
de pessoas e aterroriza outros tantos com um possível colapso no abastecimento?
Respondo sem medo de errar: pura falta de planejamento e incompetência de quem
administra o recurso em um país considerado o “berço das águas”.
A escassez hídrica é uma realidade mundial,
com ressalva para alguns países, como o Brasil, que conta com a maior reserva
de água doce do mundo. Contudo, isso não significa que podemos deitar
eternamente em berço esplêndido. O Estado de São Paulo, sobretudo as bacias PCJ
(Piracicaba, Capivari e Jundiaí), por exemplo, tem sofrido essa realidade. A
região é uma das áreas em que os conflitos pela água mais aumentam. Para se ter
uma ideia, segundo a ONU, é considerada crítica uma bacia com disponibilidade
inferior a 1500 m³/ habitante/ano. Nas bacias PCJ, o índice, em períodos de
estiagem, gira em torno de 408 m³/habitante /ano, um número que pode ser
comparado a alguns países do Oriente Médio. 
Contudo, vale ressaltar que esse
cenário não é novo. Podemos dizer que esta é a situação cotidiana da região.
Assim, uma pergunta fica lançada para os governantes: se a situação é sempre
crítica, por que esperar que o sistema entre em colapso para agir?
O governo paulista gastou milhões em obras
para tapar um buraco que ele mesmo criou ao longo de 20 anos à frente da
máquina pública. As ações para tirar água do chamado “Volume Morto”, do Sistema
Cantareira, foram emblemáticas e representam um ato de puro amadorismo
administrativo e desespero político. Há tempos que entidades sem fins
lucrativos e que trabalham sério pela recuperação dos rios e melhor
administração dos recursos hídricos tem alertado os administradores sobre a
insuficiência do Cantareira. E o que fez o governo? Deixou a população à mercê
de um sistema construído na década de 1970 e que até hoje não recebeu grandes
investimentos para a ampliação de sua capacidade. E ainda temos que aguentar
Paulo Maluf batendo no peito na televisão ao dizer que foi o último a fazer
obras no sistema. E o pior de tudo é que ele está certo!
Ao longo desses anos, o governo de São Paulo
empurrou com a barriga o problema da água. O Rio Tietê, por exemplo, é até hoje
um esgoto a céu aberto, sendo que a quantidade de dinheiro gasto para a
despoluição supera os US$ 3,6 bi em 22 anos. O Rio Sena, em Paris, foi
despoluído em menos tempo e com menos dinheiro.
Os problemas com o gerenciamento dos recursos
hídricos no Brasil se empilham. Cobro muito mais do Estado de São Paulo pelo
potencial econômico que possui, conhecido e denominado por muitos como “o
coração do Brasil”, mas que ainda conta com índices de coleta e tratamento de
esgoto baixíssimos, rios de classes inclassificáveis pela alta poluição e
cidades que, quando alcançam índices de perdas hídricas de 20%, comemoram e se
denominam exemplo. Exemplo de quê? Diga para um empresário que sua empresa
perde 20% de sua produção todo mês e veja o que acontece no fim do mês.
Chega a ser vergonhoso que, no berço das
águas e em um mundo tomado pela tecnologia, ciência e razão, os governantes
continuem olhando para os céus e pedindo misericórdia. Se for para buscar
conforto em partes religiosas, sinto, mas a resposta também não será positiva.
“Lance o seu pão sobre as águas e depois de muitos dias o achará”. Um conselho
antigo, escrito por Salomão, que, traduzido para uma linguagem mais moderna,
permanece atual: se você não planejar, nunca terá o que precisa. Eis aqui mais
um ponto em que ciência e religião se combinam.
Vieira Junior, jornalista, pós-graduando em
Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (IBE-FGV)
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