ARTIGO DE GUSTAVO SPÍNOLA
A imagem da areia movediça, tão familiar para muitos de nós desde a infância, ganha um novo significado quando aplicada ao mundo corporativo. É hora de deixar de lado a ficção e enfrentar essa realidade. Este artigo identifica se você está enfrentando esse desafio ou se tornou vítima dele como gestor ou equipe.
Pergunte a si mesmo: já se viu correndo para apagar incêndios, produzindo freneticamente, sacrificando horas fora do expediente e ao atender as infinitas demandas parecia que você não saiu do lugar? Se a resposta for sim, você está imerso em uma empresa movediça.
Certamente, ao longo da carreira, muitos enfrentaram situações parecidas. Empresas movediças sobrecarregam suas equipes com uma avalanche de demandas, usualmente elas parecem urgentes, inadiáveis ou qualquer outro adjetivo que possa ser utilizado para representar a necessidade de ter que trabalhar até mais tarde. O problema relacionado ao excesso de trabalho, quando não estruturado, é que sempre resultam em entregas que não refletem a qualidade desejada, seja pela falta de validação, profundidade da revisão ou outras frustrações que surgem tanto em quem fez, quanto em quem recebeu a demanda. E, assim, a sensação de afogamento persiste. Após essa entrega,aparece uma nova demanda só que, dessa vez, “é a mais importante da semana”. Parece uma brincadeira, mas quem nunca sentiu isso?
Quando estamos sempre correndo é difícil implementar processos estruturados.Certamente, não sou favorável em reduzir a produtividade, muito pelo contrário, mas a recorrência de situações similares demonstram que a falta de uma definição de prioridades, planejamento, organização e transparência leva a uma perpetuação do ciclo de urgência e a uma sensação constante de estar “afundando” no trabalho. Além disso, com a experiência em vários processos de OBZ, me ensinou que muitos materiais e apresentações são produzidos, mas que na prática agregam muito pouco às organizações e que se todos soubessem claramente o tempo gasto, já teriam eliminado a atividade.
Empresas assim, embora resolvam problemas emergenciais, lutam para estabelecer uma rotina estruturada e organizada, porém o curioso é que, em geral, quem sente esses efeitos são os níveis intermediários e a base, raramente o topo. A solução? Estruturar processos e demandas, comunicar de forma assertiva e treinar equipes para priorizar de forma eficaz.
“Vácuo na Areia” = Cultura Organizacional
Acredito que ainda assim vale um alerta, pois mesmo ao estabelecer procedimentos para identificar e atender às demandas internas, padronizando a criação de materiais, promovendo uma comunicação eficiente, correm o risco de cair em uma espiral sem fim. A principal culpada dessa armadilha é a cultura organizacional.
Defino “cultura” como a maneira como a empresa desenvolveu seus próprios métodos para enfrentar e solucionar desafios, sendo estes aceitos e compartilhados para toda organização como: “a forma correta de se fazer”. Por isso que elementos arraigados na cultura organizacional podem dificultar a mudança e uma organização eficaz. A solução para esse cenário é implementar a “gestão para cima”.
Resumindo: abre-se espaço para as equipes comentarem seus desafios e, a partir da interpretação do problema, a liderança busca alternativas para solucioná-lo e junto a com a equipe defini prioridades, revê-las com frequência e organizar um cronograma de tarefas, atualizando-o. Assim, a execução dos processos é feito de forma ordenada e eficiente.
Moral da história – quando nos deparamos com “areia movediça” empresarial, é crucial evitar o desespero, focar na solução daquele problema de curto prazo, mas não perder o foco nas iniciativas que transformarão a rotina da empresa no longo prazo. A mudança é possível.Afastar esse estigma das empresas é uma tarefa para verdadeiros líderes.
Gustavo Spínola é economista e sócio fundador da RG5