MAIOR CONSUMO DE PESCADO PASSA PELA INCLUSÃO DA PROTEÍNA NA MERENDA ESCOLAR

O pescado é considerado um alimento de alto valor nutricional e que deve ser incluído na dieta por sua elevada qualidade proteica. No entanto, especialistas alertam que o consumo desta importante fonte de proteína ainda não faz parte da rotina da população brasileira. Uma das alternativas para a mudança desta realidade está na sua inclusão nas refeições oferecidas pelas escolas às crianças e adolescentes. O tema vem sendo discutido por lideranças do setor que participam do comitê organizador da Semana do Pescado.

A diretora executiva da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes), Thamires Quinhões, alerta que hoje o pescado entra no cardápio da merenda escolar de uma a duas vezes ao mês. “Para que seja mais atrativo para o setor, o peixe poderia ser oferecido uma vez por semana, o que beneficiaria em muito os estudantes, já que se trata de uma proteína rica em vitaminas e aminoácidos essenciais para o desenvolvimento de crianças e adolescentes”, afirma. A executiva também reforça que é importante que seja avaliada a inclusão de outras formas de apresentação sem espinhas, com vistas à redução de custos, e de mais de uma espécie nos editais, para que não haja problemas de fornecimento.

Já na avaliação de Fábio Karam, sócio proprietário da Karam’s Mar – Indústria e Comércio de Pescados, que desde 2008 fornece o pescado para a merenda escolar e atende diversas prefeituras no Estado de São Paulo, o maior problema é ter quantidade suficiente para abastecer o mercado o ano inteiro de uma mesma espécie. “Hoje algumas prefeituras já trabalham com diversas espécies de peixes homologadas no próprio contrato e isso é de grande ajuda para o fornecimento anual,  mantendo qualidade, volume e preço”, garante.

O cação em cubos foi desenvolvido pela Karam’s Mar para ter um produto de baixo custo, sem espinha e sabor suave –  ideal para servir às crianças, segundo o empresário, que participou dos debates do V Workshop sobre Inclusão do Pescado na Alimentação Escolar, realizado pelo governo do Estado de São Paulo. “Por isso, é um peixe que teve boa aceitação. As famílias nem sempre têm o hábito de consumir peixes. Mas com as crianças tendo o acesso na escola isso ficará na memória delas e continuarão comendo pescado na vida adulta, pois se criará uma memória do paladar”, acredita.

Um dos pontos defendidos por Karam, é a inclusão de mais espécies de peixes nas licitações com as empresas para garantir o fornecimento o ano todo. “Temos o Cação, filés de Merluza e de Polaca. São peixes que são bem aceitos e com produção em diferentes períodos do ano”, destaca.

Também presente no workshop, Emerson Esteves, presidente do Conselho da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União – Peixe SP, o grande desafio está no fato do Brasil ter produtores de pequena escala. “Alimentar todos os alunos seria difícil. Mas temos um potencial gigantesco caso o poder público abra espaço para que o produtor possa entrar na escola e fazer parte desse mercado”, acredita.

Sem processadora para os peixes

Em Rondônia, no norte do país, o governo não apenas estimula, através de lei, a inclusão do pescado na merenda escolar, como também incentiva os produtores de pescado do estado. A afirmação é de Francisco Hidalgo Farina, o Paco, presidente da Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia – Acripar. “O governo tem dado suporte para a cadeia produtiva”, afirma.

Ao mesmo tempo, a associação firmou parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, para orientar os produtores na gestão do negócio, especialmente para atender um aumento na demanda. “O setor, muitas vezes, está despreparado, por isso nos preocupamos em qualificar os produtores”, explica Farina. “Também atuamos junto aos setores de compras das prefeituras para garantir que o processo seja justo”, completa.

Mas com uma produção de pescado entre 90 mil e 100 mil toneladas por ano, Rondônia enfrenta, segundo Farina, a falta de uma indústria processadora. “Atualmente temos um frigorífico e agroindústrias que atendem 20% do processamento apenas”, afirma.

Ele calcula que se os criadores rondonianos chegarem a uma produção de 150 mil toneladas, haverá interesse para o investimento em uma processadora. “Mas para isso também é preciso ter para quem vender”, conclui.

Pioneirismo nas escolas de Joinville

A cidade de Joinville, em Santa Catarina, pode ser considerada uma das pioneiras na inclusão de pescado na alimentação dos estudantes da rede municipal de ensino. De acordo com Kerolin Tuany Batista da Silva, nutricionista da Secretaria de Educação do município catarinense, há mais de 20 anos o peixe faz parte da merenda escolar. “Sempre fez parte do cardápio”. Muito antes do ano de 2.000, o peixe já fazia parte do cardápio”, afirma. O cuidado é servir pescado sem espinha. “Oferecemos tilápia, sardinha por exemplo”, diz.

Mesmo assim, a Secretaria de Educação busca manter o incentivo e em setembro deste ano realizou, em parceria com a Unidade de Desenvolvimento Rural um concurso de apresentação de pratos com pescados nos Centros de Educação Infantil (CEIs) do município. Os 38 CEIs participaram. A intenção foi a elaboração de pratos com peixes com foco no incentivo do consumo e valor nutricional. “Fizemos uma formação online e tivemos uma ótima adesão dos CEIs. Propusemos para eles criarem um prato elaborado levando em consideração a apresentação. Pedimos para ter decoração, ser atrativo, colorido e que envolvesse as crianças, como uma ação pedagógica”, explica Kerolin. A atividade reuniu crianças do maternal 1 e 2 e 1° e 2° período.

 

Foto: Diretora executiva da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes), Thamires Quinhões.

Crédito: Divulgação.

 

 

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