PROGRESSÃO CONTINUADA NO RIO DE JANEIRO ACENDE ALERTA ENTRE EDUCADORES

PROGRESSÃO CONTINUADA NO RIO DE JANEIRO ACENDE ALERTA ENTRE EDUCADORES

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, assinou um decreto que institui a progressão continuada no ensino médio da rede estadual a partir de 2025. Na prática, os estudantes poderão ser aprovados mesmo sem atingir a média mínima em até seis disciplinas. A política prevê ainda o pagamento de uma gratificação de R$ 3 mil para professores de unidades que alcançarem entre 92% e 97% de aprovação.

Pelo novo modelo, os alunos que não atingirem o desempenho esperado deverão passar por um processo de recuperação ao longo do ano seguinte. A responsabilidade pela elaboração e aplicação desses planos de ensino ficará a cargo de cada escola.

A medida, no entanto, tem gerado debates sobre os impactos na qualidade da educação. Para o professor Felipe Guisoli, fundador da escola online Universo Narrado e especialista em preparação para vestibulares e concursos de alta concorrência, o efeito pode ser negativo — especialmente em disciplinas como matemática e física. “Antes de aprender matemática, precisamos quebrar a tradicional barreira que muitos ainda carregam quanto à disciplina. Há um histórico de apreensão. Muitos chegam com traumas, bloqueios, aquela sensação de que ‘nunca foram bons’. Mas isso é um mito”, afirma. Para ele, políticas que flexibilizam a aprovação sem atacar a raiz das dificuldades acabam reforçando essa sensação de incapacidade nos estudantes. “Essa medida não ajuda nessa mudança de mentalidade”, completa.

O alerta do educador ocorre em um momento preocupante para o aprendizado em matemática no país. Estudo recente da ONG Todos Pela Educação e do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), intitulado “Aprendizagem na educação básica: situação brasileira no pós-pandemia”, revela um cenário crítico.

Em 2023, apenas 16% dos alunos do 9º ano apresentaram aprendizado adequado em matemática — percentual inferior ao de 2019 (18%) e semelhante ao de 2021 (15%). No 3º ano do ensino médio, o índice permaneceu estagnado em 5%, repetindo o resultado crítico registrado no pós-pandemia.

As desigualdades raciais também persistem: entre estudantes brancos, 8% atingiram aprendizado adequado em matemática; entre estudantes pretos, apenas 3%.

Para Guisoli, o problema não reside apenas na quantidade de estudo, mas na forma como o aluno aprende. “O que impede muitas pessoas de evoluírem em matemática não é estudar mais, mas aprender a estudar de maneira estratégica e profunda. Mudar a mentalidade é o primeiro passo para transformar o aprendizado”, destaca.

Ele afirma que a crença de que “não nasci para matemática” precisa ser superada. “Matemática é construção. É uma habilidade desenvolvida com tempo, paciência e método. No Universo Narrado, trabalho para estimular uma mentalidade de crescimento, mostrando que esforço, curiosidade e perseverança são mais importantes que qualquer ‘dom’. Quero que os alunos vejam a matemática como uma aliada, não como uma ameaça”, afirma.

Com mais de uma década de experiência e histórico de aprovação de alunos em vestibulares e concursos de elite — como Medicina na Fuvest, ITA e IME —, Guisoli avalia que o debate sobre progressão continuada precisa considerar o impacto direto na aprendizagem. “Se não houver acompanhamento pedagógico robusto, o risco é ampliar ainda mais as lacunas educacionais.”

A implementação do novo modelo dividiu opiniões e deve seguir como pauta central na discussão sobre a qualidade da educação no Rio de Janeiro e no país.

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