
Apesar de apresentar indicadores positivos no início de 2025, o setor da construção civil enfrenta um cenário de incertezas que tem afetado a confiança dos empresários. Essa foi a tônica da Reunião de Conjuntura promovida pelo SindusCon-SP em 30 de abril, sob a liderança de Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, e com a participação do presidente Yorki Estefan.

Segundo dados apresentados por Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre, a atividade do setor manteve crescimento mesmo diante de uma desaceleração no primeiro bimestre. Nos 12 meses até fevereiro, a construção civil acumulou alta de 4,8%. O consumo de cimento subiu 6% no primeiro trimestre, e os setores de indústria e comércio de materiais de construção também apresentaram crescimento, de 4,9% e 6,7% respectivamente. No entanto, Castelo alertou que esse ritmo não deve se sustentar nos próximos meses.

O mercado de trabalho no setor continua contratando mais do que demitindo, mas o ritmo também perdeu força nos primeiros meses do ano. “O mercado de trabalho segue negativo”, pontuou Castelo. Em São Paulo, o cenário se repete.
Na análise de Marcio Benvenutti, diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP, o setor ainda se sustenta com uma demanda aquecida, mas enfrenta desafios, como a escassez de mão de obra especializada. “Temos um quadro ainda positivo, mas os indicadores dos próximos meses preocupam bastante. O sinal amarelo começa a aparecer”, afirmou, ao defender ações rápidas dos governos em todos os níveis para evitar o agravamento do cenário.

A Sondagem da Construção do FGV Ibre mostrou queda na confiança dos empresários, que se tornaram mais pessimistas quanto à situação atual e às perspectivas futuras. As obras de infraestrutura seguem como as mais resilientes, com expectativa de melhora nos negócios. Entre os principais entraves citados estão a demanda insuficiente e a escassez de mão de obra. Um terço das empresas participantes da pesquisa atua no programa Minha Casa, Minha Vida, e relataram dificuldades com burocracia e altos custos de mão de obra.
Os custos da construção subiram 8,39% nos últimos 12 meses na cidade de São Paulo, impulsionados principalmente pela mão de obra. Além disso, Ana Castelo destacou a queda na produtividade do setor: 21,6% desde 1995 considerando também o segmento informal, e 2% de retração entre 2007 e 2022 no setor formal.

O economista Robson Gonçalves, da FGV, trouxe uma análise do contexto internacional e seu impacto no Brasil. Ele apontou a tendência de aumento das importações de produtos chineses e a possibilidade de desaceleração abrupta da economia nacional. Apesar disso, o IBC-BR cresceu 4% no primeiro bimestre, puxado pelo setor de serviços.
Yorki Estefan expressou preocupação com o aumento dos custos e processos trabalhistas no setor de serviços da construção. Recomendou às empresas maior proteção do fluxo de caixa e criticou a ausência de ações governamentais para controle de gastos públicos. Gonçalves reforçou que, sem um horizonte de crescimento sustentável, a política econômica brasileira seguirá instável, marcada por tentativas de conciliar assistencialismo com estímulos à economia.
Zaidan citou o exemplo da Noruega, que usou recursos do petróleo para financiar infraestrutura por meio de um fundo soberano. No Brasil, ele teme que iniciativas semelhantes atraiam interesses de fora do setor e agravem o déficit público, caso as contas não estejam equilibradas.
Em meio a dados mistos e preocupações crescentes, o setor da construção civil vive um momento de alerta. Os próximos meses serão decisivos para definir se o ritmo atual será mantido ou se o cenário econômico trará um freio à atividade.
Foto 1 – Presidente do SindusCon-SP, Yorki Estefan.
Crédito: Roncon & Graça Comunicações
Foto 2 – Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP.
Foto 3 – Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre.
Crédito: Divulgação.
Foto 4 – Marcio Benvenutti, diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP.
Crédito: Roncon & Graça Comunicações.
Foto 5 – Economista Robson Gonçalves, da FGV.
Crédito: Divulgação.