
A Regional Campinas do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) apresentou nesta terça-feira (20/05) os resultados da Pesquisa de Sondagem Industrial de maio, destacando o cenário atual da indústria local, com ênfase na busca por eficiência energética e os principais desafios enfrentados pelas empresas associadas. O levantamento foi realizado em alusão ao Dia da Indústria, comemorado em 25 de maio.
Um dos pontos centrais da pesquisa é a crescente preocupação com a eficiência energética. De acordo com os dados, 20% das empresas associadas consideram fundamental contar com operadoras de energia elétrica capazes de atender imediatamente ao aumento de demanda, enquanto 30% classificam isso como importante. Entre as principais ações adotadas para otimizar o uso de energia, 40% investem em equipamentos modernos e eficientes, 30% monitoram o consumo energético, 18% realizam manutenção preventiva e 10% utilizam iluminação natural. Apenas 2% admitiram não adotar nenhuma medida, e nenhuma empresa relatou ações de automação de iluminação.
Segundo o diretor do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, o tema da eficiência energética partiu da própria demanda das indústrias associadas. “O aumento da procura por energia elétrica nos últimos anos traz preocupação, por ser um insumo essencial para a manutenção e ampliação dos negócios. As respostas indicam como o tema é estratégico para a indústria regional”, explicou.
Estagnação na produção e fatores econômicos preocupam setor
A sondagem também revelou que 70% das empresas mantiveram estável o volume de produção em relação ao mês anterior. Quanto ao faturamento, 50% mantiveram estabilidade, 40% registraram queda e apenas 10% relataram aumento. Para Toledo Corrêa, o cenário reflete a combinação de inseguranças econômicas, jurídicas e políticas. “O custo dos insumos aumentou, a energia encareceu, o transporte também. Além disso, há uma crescente carga tributária. As empresas continuam produzindo, mas em um ritmo inercial”, afirmou.
O nível de inadimplência permaneceu estável para 80% das empresas, assim como o endividamento, mantido por 60% delas. A utilização da capacidade instalada revela uma diversidade nos estágios operacionais: 10% operam com até 50% da capacidade, 30% entre 50,1% e 70%, 40% entre 70,1% e 80% e 20% utilizam entre 80,1% e 100%.
Toledo Corrêa ainda destacou a dificuldade em realizar investimentos devido à elevada taxa Selic. “Com a Selic nos níveis atuais, o industrial paga para trabalhar. A lucratividade despenca e a empresa deixa de investir. Estamos trocando máquinas antigas, não ampliando a produção. Isso reduz a capacidade de instalação das empresas.”
Emprego: estabilidade marcada pela escassez de mão de obra qualificada
Apesar das dificuldades enfrentadas, o diretor não vislumbra grandes alterações no quadro de empregos. “Mesmo com as dificuldades, as empresas preferem manter seus funcionários, pois hoje falta mão de obra especializada. Demitir pode significar não conseguir repor a vaga depois”, ponderou. Ele também alertou para uma mudança de perfil da força de trabalho: “Estamos vendo uma geração que está evitando trabalhar. É algo crônico, não só no Brasil, como no mundo”.
Comércio exterior tem leve crescimento, mas sofre com impactos da greve na Receita Federal
O diretor do Departamento de Comércio Exterior do Ciesp-Campinas, Anselmo Riso, apresentou os dados da balança comercial regional de abril. As exportações somaram US$ 300,9 milhões (1,25% a mais que em abril de 2024), enquanto as importações alcançaram US$ 1,142 bilhão (alta de 10,42%). Com isso, o saldo comercial foi negativo em US$ 841,9 milhões. A corrente de comércio totalizou US$ 1,443 bilhão, representando um crescimento de 8,38%.
Entre os principais municípios exportadores estão Campinas (30,27%), Paulínia (22,95%) e Sumaré (16,05%). Nas importações, Paulínia lidera com 44,15%, seguida por Campinas (23,93%) e Hortolândia (7,24%). Os destinos principais das exportações foram Estados Unidos (18,57%), Argentina (13,62%) e Países Baixos (6,82%).
Riso destacou que, apesar dos números positivos, a greve dos auditores da Receita Federal tem dificultado o processo de exportação, sobretudo para empresas que não operam no regime especial de Operador Econômico Autorizado (OEA). “Exportamos tecnologia, e tecnologia depende de insumos importados. Com a greve, as liberações atrasam e comprometem o cumprimento dos contratos, afetando inclusive a credibilidade do Brasil no mercado internacional.”
Contratos do exterior refletem decisões de anos anteriores
Toledo Corrêa ressaltou que os contratos que hoje estão em execução foram firmados no ano passado. “Não se vende de um mês para o outro. É um processo longo, e enfrentamos um mercado interno fragilizado, com a população endividada e financiando suas dívidas. Isso limita o crescimento do consumo e, consequentemente, da produção.”
A apresentação contou ainda com a participação do vice-diretor do Ciesp-Campinas, Valmir Caldana.
A pesquisa de Sondagem Industrial de maio reforça a resiliência da indústria da Região de Campinas diante de um cenário econômico desafiador, marcado por altos custos, falta de investimentos e dificuldades estruturais. Ainda assim, ações estratégicas como a busca por eficiência energética e o foco na manutenção da força de trabalho qualificada demonstram o esforço contínuo das empresas para manter a competitividade e garantir sustentabilidade no médio e longo prazo.
Foto: Vice-diretor do Ciesp-Campinas, Valmir Caldana; diretor do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa e o diretor do Departamento de Comércio Exterior do Ciesp-Campinas, Anselmo Riso.
Crédito: Divulgação.