COLUNA DO JORNALISTA NELSON TUCCI
A vida está dura, muito difícil nos últimos tempos.
Quem não ouve com alguma frequência a frase acima? A dificuldade não é só o dinheiro; ou às vezes nem tem a ver com ele. A harmonia social é um fator extremamente importante e a falta dela pode ser (muito) estressante, por exemplo. Abrir um jornal (enquanto existir), assistir uma TV ou clicar em um site ou aplicativo – não importa o formato, mas o conteúdo – e se deparar com informativos de guerra, matanças aleatórias no exterior, a violência em nosso país que não cessa e os vários casos de corrupção, acabam por nos fazer muito mal.
Dias atrás eu mesmo sonhei que estava em meio à guerra, como soldado… Foi minha “luz vermelha” para dar um tempo no noticiário pesadíssimo que nos permeia. Mentalmente reordenei as tarefas e fui fazer o que gosto – muito! – na vida: escrever. Em situação semelhante, muitos vão ouvir música, dançar, tomar `umas` com os amigos, leitura de ficção, andar de bicicleta e por aí vai. O importante é romper o ciclo negativo.
“Falando assim parece simples, né”, alguém pode pensar. Pois bem, nem sempre a gente consegue se dar conta disso e ter a necessária força para romper o lado ruim. Muitas vezes falta o diagnóstico, ou autoanálise, ou força. Por isso, pensar coletivamente sempre deixa a coisa mais leve. Quer ver como? Siga-me.
Em uma (outra) época “bicuda”, em que a AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida, lembram?) era preocupação número 1, com folga sobre o segundo lugar, fiz uma ação de endomarketing com uma empresa de grande porte para a qual prestava serviços e que marcou demais. Em um ano difícil (na virada do século), em que muitas pessoas estavam “com o pires na mão” e esperavam ganhar algo no fim de ano (já que a companhia sempre presenteava colaboradores), resolvi inverter o eixo e a expectativa (não sem antes ter minhas próprias dúvidas quanto à aceitação) e sugerir o seguinte: “O que nós podemos fazer d e bom neste Natal?”. Seria o “momento”? Sim. Foi. Para minha surpresa, e da turma da área de marketing, a aceitação foi grande.
Escolhemos um orfanato, na Grande São Paulo (vamos preservar nomes), que cuidava de crianças cujas mães tinham o vírus HIV. Soube, por exemplo, que mesmo infectadas com o vírus, na gestação, não o transmitiam automaticamente para todos os recém-nascidos. Uns deles desenvolviam a doença e outros não, até uma certa idade. Não era preciso dizer, mas as crianças de lá tinham uma grande carência – sentimental e material. Lembro que no primeiro contato passamos uma manhã inteira por lá e o tiozão aqui terminou a reportagem (para o então jornal interno da empresa) carregando 2 crianças no colo…
A empresa toda se mobilizou e fizemos uma super campanha de Natal, exercendo o voluntariado junto à grande maioria dos colaboradores que ficava em São Paulo e, claro, ensejou uma ação de responsabilidade social de formato simples, mas com um retorno extraordinário. Aprendi, por óbvio, que muitas vezes uma ação coletiva é mais fácil, e produtiva, que uma atitude individual. No sistema “um dando força pro outro” a vergonha e a falta de iniciativa desaparecem. E a companhia como um todo sai mais feliz ao término da campanha porque sente que valeu a pena.
Repare, já é quase Natal de novo. Muitos de nós estarão com “o pires na mão” esperando receber alguma caridade. Proponho invertermos o eixo e pensar: o que eu posso fazer por um irmão mais necessitado? Exerça a cidadania plena, pratique o voluntariado se tiver chance. Converse com colegas de trabalho, amigos, parceiros, que a ideia vem. E, acredite, fazer o bem é muito, mas muito melhor para quem o pratica do que para quem o recebe.
Nelson Tucci é jornalista profissional diplomado, autor de três livros sobre História do Brasil, Mercado de Capitais e Terceiro Setor (Jovem Aprendiz). Trabalha no quarto livro, sobre pessoas com Esclerose Múltipla, escreve sobre sustentabilidade e é palestrante nas horas vagas.