Década do Brasil

ARTIGO DE MÁRCIO COIMBRA

É normal que ao final de um ano façamos uma avaliação de tudo que passou. Certamente 2020 não foi um período fácil. Mas neste momento fechamos um ciclo de 10 anos que iniciou em 2010, a chamada década do Brasil, que contaria com Copa do Mundo, Olimpíadas e as benesses do Pré-Sal. O país era a sensação do momento e tinha tudo para finalmente decolar. O resultado, como sabemos, tanto na Copa, quanto na economia, foi desastroso. Diante de tantos erros, já passou do momento do Brasil aprender e reagir.

Dez anos atrás vivíamos um mar de ufanismo. Enquanto muitos diziam que nosso país estava na moda, que esta seria a década do Brasil e tudo se encaminhava para crescermos de forma nunca vista, sempre olhei para este cenário com certo grau de ceticismo. Quando analisamos cenários, sempre precisamos olhar para o histórico a fim de desenhar os rumos que temos adiante. Foi o que fiz.

Nada nos indicava que os elementos basilares de nossa nação haviam evoluído para aproveitarmos a onda a favor que se formava. Construímos uma democracia, realizamos privatizações, desenhamos um modelo de capitalismo social, mas ainda em nossa base havia elementos da política de compadrio, impunidade, corrupção e incerteza, fatores que impedem a adoção de ferramentas reais de impulsionamento social e econômico. Havia maquiagem, mas faltava substância.

Sabemos que o Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades. Uma década depois da euforia, vivemos a depressão. Além de nosso país não pegar embalo na onda favorável, retrocedeu. O empobrecimento médio da população na década foi o mais intenso em 100 anos. Além de não crescer, o Brasil regrediu. Nos anos Dilma despencou 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016. Diante da pandemia em 2020, as expectativas são de um novo tombo de mais de 4%.

Sem um arcabouço de reformas estruturais, políticas de longo prazo e embalado pelo populismo da nova matriz econômica, certamente o crescimento não viria, mesmo que impulsionado por uma gigante onda a favor. O desencadeamento da Lava Jato foi apenas mais um capítulo da história deste castelo de cartas que se desmontou, pois apesar de alto, era frágil. Um modelo de capitalismo de Estado baseado na política do compadrio e nos instrumentos de corrupção que realizavam a manutenção do sistema.

Vítima dos próprios erros, nosso país paga um preço alto, que além de tropeçar em uma década perdida, assim como nos anos 1980, tem como vítima principal uma geração que esperava ter superado o passado. Mais uma geração perdida, reformas inacabadas, prejuízos sociais incalculáveis. O retrato do Brasil, dez anos depois, é desolador. Em uma década, aquela que deveria ser nossa, o mundo cresceu 30,5% e nosso país apenas 2,2%.

Chegamos ao fim de mais uma década que deveria ser esquecida, mas que serve de alerta. O Brasil precisa deixar de ser refém de seus próprios erros, da política de compadrio e da corrupção endêmica que corrói nossas instituições. É preciso olhar adiante aprendendo com os erros do passado. Que o fim destes dez anos sirva de recomeço, entendimento, diálogo e unidade, afinal, todos dependemos do sucesso de nosso país. Mesmo com ceticismo, um novo ano é sempre motivo para renovarmos nossa crença em dias melhores.

 

Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).

 

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