Muito se fala sobre as questões que envolvem a alimentação na gestação. No entanto, o que pouco se sabe é que, por meio dos alimentos, é possível regular os genes que serão passados ao feto. Desta forma, é possível garantir um desenvolvimento saudável e uma criança com menores chances de apresentar determinados males. A nutricionista Ana Poletto, uma das três do Brasil que atua em clínica na área da Genômica Nutricional, explica que a experiência nutricional precoce em uma fase específica do desenvolvimento da criança gera respostas positivas e duradouras ao longo da vida. “Chamamos isso de imprinting metabólico e, para que esse processo ocorra de forma adequada, é preciso variedade e qualidade nas escolhas alimentares que fazemos. Na gestação, por meio da alimentação, temos a possibilidade de transferir aos nossos filhos melhores condições para ser um indivíduo saudável”, explica Ana.
Dados científicos mostram que as primeiras experiências nutricionais de um indivíduo são capazes de programar o seu padrão metabólico por toda a vida. Ou seja, os nutrientes obtidos a partir de uma alimentação saudável e equilibrada promovem “modificações” no DNA que ficam “registradas” e tornam o bebê ou a criança menos propenso a desenvolver certas doenças como, por exemplo, obesidade, problemas cardiovasculares e diabetes mellitus.
Para se obter a qualidade na alimentação, a profissional orienta que, além do balanço energético-proteico que é fundamental para o desenvolvimento fetal e para a saúde da futura mamãe, um equilíbrio interessante entre fontes de vitaminas, minerais e compostos bioativos se faz necessário. “As frutas e verduras são umas das principais fontes de compostos bioativos essenciais para a modulação deste DNA que estará, nesta fase, receptivo a mudanças duradouras”. Ana destaca ainda que é importante compreender que, além do cuidado com a alimentação, o controle do estresse, a prática de atividade física e a menor exposição a contaminantes ambientais são atitudes essenciais para se ter saúde, conforto e tranquilidade neste período. “Estes aspectos tem sido cada vez mais evidenciados pela literatura científica”, afirma Ana.
Nutrientes e suas fontes
– vitaminas pertencentes ao complexo B, encontradas em cereais integrais e vegetais de cor verde escura, são indispensáveis;
– a colina, vitamina do complexo B localizada na gema do ovo e no gérmen de trigo, deve fazer parte do cardápio. Aqui, vale lembrar que os ovos devem ser bem cozidos;
– o ferro, encontrado nas carnes vermelhas e no espinafre cozido, o cálcio dos laticínios, o selênio, presente na castanha do Pará e o magnésio dos vegetais como a couve manteiga merecem um destaque especial.
– em uma mesma refeição, evite combinar alimentos fontes de cálcio e ferro. Nada de queijo na salada, por exemplo.
– gorduras de boa qualidade como as encontradas no abacate e no azeite de oliva extra virgem são importantes. No entanto, na gestação um destaque especial deve ser dado a gordura dos peixes conhecida como ômega 3. Dados científicos mostram efeitos positivos relacionados ao consumo e o desenvolvimento neurocognitivo das crianças.
– o uso de suplementos faz-se necessário muitas vezes durante a gestação. Mas é extremamente importante que essa suplementação seja realizada e acompanhada por um profissional capacitado.
Dra. Ana Poletto é formada em Nutrição pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná e possui mestrado e doutorado em Fisiologia Humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). Atua como nutricionista clínica, palestrante em congressos e eventos e é docente em cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica, nas áreas de Genômica, Endócrino e Bioquímica. Possui trabalhos publicados em revistas internacionais e nacionais e participa ativamente de congressos no Brasil e no exterior.
Foto: Nutricionista Ana Poletto.
Crédito: Vitor Vieira