A SEGUNDA ONDA DA CRISE

10 de dezembro de 2015.
ARTIGO DE FREDERICO AZIZ
Ninguém pode negar
que 2015 foi realmente difícil. Independentemente da motivação, seja ela
política, social ou financeira, atravessamos um ano de dificuldades como há
muito não se via.
Nós, empresários
contábeis, somos uma espécie de “termômetro” da crise. Podemos facilmente
identificar, na qualidade de agentes ativos no trato das questões tributárias,
quais os setores e os períodos que afetam os empresários e seus mercados e como
surge a escassez de recursos e/ou mão de obra.
Pois bem. Neste ano
posso concluir o seguinte: não houve setorização ou sazonalidade. A crise
abraçou a todos, sem distinção de credo, raça ou condição financeira.
Acompanhamos grandes
empresas demitindo em massa. Participamos do sofrimento do pequeno empresário,
que investiu em um negócio próprio e simplesmente não vingou. Negociamos
acertos de prestadores de serviço a empreiteiras, que cancelaram contratos a
esmo.
Enfim, aqueles que
tinham alguma folga no fluxo de caixa se viram pressionados, tendo que lançar
mão das reservas para se adaptar às novas e apertadas práticas de um combalido
comércio.
Muitos foram os
motivos, que não vem ao caso citar, até mesmo porque não é o foco deste artigo.
Gostaríamos, isto sim, é de alertar para o que chamamos de “segunda onda” da
crise.
Tal qual os Tsunamis,
muitas vezes os cataclismos econômicos vêm em pares, ou mesmo em trios. As
manifestações sismológicas replicam o fenômeno das ondas e seu efeito é
devastador, pois após a primeira, está tudo destruído ou fragilizado. Com a
chegada da segunda (ou terceira), o que já estava danificado simplesmente
desaparece.
Uso essa analogia
para ilustrar o que ocorrerá com as empresas neste fim de 2015 e início de
2016. A grande maioria dos afetados pela crise é de pequenos e micros
empresários, que não possuem recursos nem reservas para suportar a cruel
recessão que se abateu sobre o País.
Muitos seguem na reta
final do ano acumulando prejuízos e trabalhando no vermelho. Neste cenário,
muitas contas acabam ficando para trás, sobretudo aquelas que não são exigíveis
de imediato ou que não impedem o funcionamento do negócio.
Dentre elas, temos os
impostos que, mesmo para as micro e pequenas, prejudicam vigorosamente a
lucratividade. A sociedade compulsória do Estado nos negócios privados resulta
em gordas retiradas por meio da arrecadação fiscal.
Muitas das empresas
não têm sequer perspectiva de quitação dos impostos em atraso. Porém, ocorre
que, para a sua manutenção no regime de tributação simplificada, é
imprescindível que todas estejam em dia com seus tributos. Afinal, é vedado
àquelas que possuem débitos a possibilidade de usufruir do Simples Nacional no
ano seguinte.
Muitas buscam
parcelamentos dos tributos, de modo a manter a regularidade fiscal, pois o
débito parcelado não é exigível em termos de cobrança. Mas é importante
compreender que tal solução é tão somente protelatória.
Sem perspectiva de
novos negócios ou de aquecimento da economia, as que conseguem seus
parcelamentos viram o ano acumulando a parcela mensal do imposto que foi
dividido e os encargos atuais devidos a cada mês. Não há fluxo de caixa que
suporte tal situação.
Sob a pressão dos
contadores e a ilusão da solução imediatista, os empresários caem na armadilha
aplicada pelo governo de parcelar os débitos em busca da manutenção do suposto
regime mais benéfico.
Diante disso,
pergunto: o que acontecerá no final de 2016, quando se acumularem os débitos de
2016? Ora, faremos novo parcelamento, somando ao saldo devedor já existente
valores que formarão um passivo tributário adicional a ser pago, e assim por
diante.
Sabe o que acontece
em 2017? Morre a empresa, juntamente com o empreendedorismo, a geração de
empregos e os sonhos diretos e indiretos de todos os envolvidos no negócio.
Temos ainda aqueles
que simplesmente não parcelam os débitos, por não terem recursos sequer para
bancar o valor. Estes morrem da mesma forma que os outros, mas com a diferença
de que sua conta será muito mais salgada, pois a exclusão do Simples os coloca
em regimes tributários extremamente caros, tornando o negócio inviável.
Num estudo criterioso
do fluxo de caixa, é importantíssimo o conhecimento dos impostos que teremos de
pagar. Costumo dizer que o governo é como o banco, ou seja, no caso de
necessidade nos valemos de certas facilidades que trarão consequências
desastrosas para a empresa num futuro bem próximo.
Fique atento quanto à
formação do seu fluxo e não deixe acumular contas que aparentemente são inócuas
ao funcionamento do negócio, mas que num curto espaço de tempo trazem
consequências negativas ao caixa.
Se Deus quiser, 2016
será diferente e você se lembrará desta leitura com descaso. Tomara que seja
apenas um devaneio e que a segunda onda simplesmente não aconteça. Mas não
custa nada ficar atento ao alerta das sirenes, que soam a cada dia mais fortes,
anunciando um novo ano tão ou mais complicado do que este que passou.
Frederico Aziz é
contador, advogado tributarista e diretor executivo da NTW Pampulha.
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