COLUNA DA MÁRCIA AMERIOT

12 de agosto de 2014.
Má educação
Márcia Ameriot
Sempre ouvimos dizer
que são as ideias que transformam o mundo, mas é preciso valentia para
colocá-las em prática. Não é suficiente que nós, educadores, saibamos o que
fazer, temos que comprometer-nos com nossos educandos.
Todo mundo parece
mais ou menos entender o que significa educar mas, na verdade, poucas
atividades humanas tem acumulado tantas contradições ao longo dos séculos,
desde Aristóteles até nossos dias.  Domar
os instintos naturais pela razão ou dar rédea solta ao brutamontes que cada um
de nós carrega? Ser espontâneos ou “educados”? Afinal o que é nosso e o que é
aprendido? Durma-se com um barulho filosófico desses…
Para Friedrich Fröbel,
pedagogo alemão e fundador do primeiro jardim da infância da história, por
exemplo, “a educação não é senão a vida ou o meio que conduz o homem, ser
inteligente, racional e consciente, a exercitar, desenvolver e manifestar os
elementos da vida que possui em si mesmo.”
Entretanto, existem
autores que pretendem explicar a conduta do homem pelas mesmas pautas de
conduta do animal irracional. Uma das características centrais do Manifesto
Behaviorista foi sua ênfase no ambiente. Embora Watson tenha se referido em
muitas ocasiões a fatores biológicos, e especialmente neurofisiológicos, em seus
trabalhos com animais, crianças e adultos, a ênfase se centrou no papel do
ambiente. Ele nunca descartou o papel da biologia na conduta. No que tange ao
ambiente, deu-lhe uma importância primordial. 
Sua conhecida frase sobre esse
assunto diz o seguinte: “Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis e bem formadas
e meu mundo específico para criá-las, e eu me comprometo a escolher uma delas
ao acaso e treiná-la para que chegue a ser qualquer tipo de especialista que
escolher: médico, advogado, artista, comerciante, e inclusive mendigo ou
ladrão, sem levar nem um pouco em conta seus talentos, capacidades, tendências,
habilidades, vocação ou a raça de seus antepassados.”
Sem dúvida que
poderia alcançar seu propósito; mas um homem assim fabricado, seria um homem ou
um animal treinado? Chegaria a ser o que seu treinador determinara, mas não o
seria por si mesmo…
E não é uma tentação
permanente para os educadores pretender que os alunos ou educandos sejam imagem
e semelhança sua? Muitos pais também projetam seus próprios desejos na educação
dos filhos com a desculpa de que “não falte a ele o que eu não tive” ou “que
estudem o que eu não pude estudar, que sejam o que eu não pude ser..”  E assim vamos tendo uma legião de médicos,
administradores e advogados frustrados.
Esquecemo-nos,
educadores e pais, de uma verdade fundamental na educação: que educar não é
impor nada a ninguém, mas ajudar a ser; que o principal agente na educação é o
próprio sujeito, autônomo, livre; que o educador ou o pai não é mais que um
meio para que o outro se eduque.
A educação é um
processo interno (intrínseco, dirão os filósofos, que gostam das palavras mais
bonitas) que ninguém pode assumir pelo outro. O objetivo da educação é que o
indivíduo alcance sua felicidade na realização plena de sua “vocação”, anuncia
Bernabé Tierno, pedagogo espanhol. E, continua, citando a Gabriel Marcel, como
“minha vocação sou eu mesmo”, a educação é a realização de minha “vocação” de
homem, de pessoa humana e essa não consiste tanto em fazer coisas mas em “fazer-se”
a si mesmo. É a própria pessoa, o próprio educando que se faz,  aperfeiçoa-se. Pausa para reflexão e suspiro
da que vos escreve…
Educar-se é,
definitivamente, aprender a insubstituível tarefa de ser homem.
O educador não pode suplantar
a responsabilidade do aluno, a escola e a família não devem, portanto,
tornar-se locais de treinamento, onde a criança é forçada a aprender, mas em lugares
nos quais livre e autonomamente ele opta por aprender e respondendo às necessidades
atuais da criança, não àquelas que ainda terá ao longo dos anos. A criança tem
o direito de viver a sua infância, sem que ninguém (nem os educadores) a
impeçam.
O ambiente educativo
deve despertar os alunos e não modelá-los como se fossem argila sem forma. Não
são animais que estão ali para serem domesticados: eles possuem vontade,
desejo, liberdade que precisam ser respeitados e tomados em conta. Desde a
educação infantil defendo um tipo de educação que faz do aluno o protagonista
de sua educação. Como sonhava Emmanuel Mounier: a educação faz parte da
formação integral do ser humano e a escola, “desde o primário, tem a função de
ensinar a viver, e não de acumular conhecimentos exatos ou destrezas” por isso,
“a educação não pode ter como fim moldar a criança ao conformismo de um meio
familiar, social ou estadual, nem se restringirá a adaptá-la à função ou papel
que lhe caberá desempenhar quando adulto. ”
E termino, citando
meu querido Mounier, novamente, porque não poderia deixar de lembrar uma frase
que continua fazendo com que eu, todos os dias renove minha paixão pela
Educação, com maiúsculas: “Todo verdadeiro educador é ao mesmo tempo, embora em
proporções variáveis, um profeta, um polemista, um psicólogo ou, se preferir,
um professor.”
Até a próxima!
Márcia
Ameriot é superintendente da Fundação Romi, localizada em Santa Bárbara
d´Oeste. A profissional, da área de responsabilidade social empresarial e
desenvolvimento local sustentável,  é jornalista, historiadora
e desenvolveu sua carreira em organizações como o IDIS (Instituto
para o Desenvolvimento do Investimento Social) e Fundação Tide Setubal. Tem
experiência internacional  na área de violência doméstica e direitos da mulher, tendo atuado por
12 anos na Itália, Chile e México, onde foi uma das fundadoras da
organização Mujer
Integral, 
da
qual foi representante junto às Nações Unidas nos trabalhos de revisão da
Conferência de Beijig, em Nova Iorque. Márcia é formada em
Princípios de Gestão para Organizações do Terceiro Setor pela Fundação Getúlio
Vargas.
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