SER PROFESSOR NA ATUALIDADE: DILEMAS E DESAFIOSNO ENSINO DA GERAÇÃO Z

06 de outubro de 2015.
ARTIGO DA PROFESSORA FERNANDA PEREIRA MEDEIROS

 “Cada geração começa a sua vida
num mundo de objetos e de fenômenos criado pelas gerações precedentes”. Essas
são palavras de Alexis Leontiev que, junto a alguns colegas como Luria e
Vigotski, muito contribuiu para a compreensão do processo de desenvolvimento do
ser humano. Como nos tornamos nós mesmos? Segundo esses autores, é por meio das
relações que estabelecemos em nossa trajetória de vida, na família, escola,
amigos, trabalhos… vamos nos apropriando das pessoas que passam por nossas
vidas. Pessoas e fenômenos em um dado momento histórico. Não é por acaso que
muitos acabam classificando gerações com nomenclaturas de X, Y ou Z. Algumas já
até ganharam o mundo artístico porque eram “o futuro da nação”: a Geração Coca
Cola! Mas, independentemente do nome que receberam, todas passaram por um lugar
de se apropriar de tudo o que a cultura humana já conquistou: a escola. Ou
seja, não existe nada no sujeito que não tenha estado antes no social. Tudo que
existe tem historicidade, tudo é produzido pelas condições e nas relações
sociais.
A tecnologia mais refinada que
existe, portanto, só foi possível graças ao desenvolvimento do humano enquanto
ser social. É produto de relações essencialmente humanas. Com a geração chamada
geração Z não é diferente: tudo o que os caracteriza está, antes de mais nada,
nas relações nas quais esses jovens, nascidos a partir da década de 1990,
estabelecem. Seja em casa, na escola, no trabalho, com familiares, amigos e
professores. Os meninos da Geração Z, muitas vezes nunca conceberam o planeta
sem computador, chats, telefone celular. Sua maneira de pensar foi influenciada
desde o início pelo mundo em velocidade proporcionado pela produção humana
chamada tecnologia. Não se incomodam em fazer tudo ao mesmo tempo: assistem a
aula, escutam música, postam nas redes sociais sobre o fim de semana e ainda
efetivam uma busca no Google sobre o que o professor pergunta em sala de aula.
Para eles, a informação está em mãos o tempo todo, não sabem o que é um
vendedor de Enciclopédia, e questionam a verdadeira utilidade de uma
biblioteca.
O desafio deles não é o acesso à
informação, mas a apropriação do conhecimento. Conhecimento que exige esforço,
interesse, exige atribuir sentido ao que está sendo apresentado como
informação. Com esses jovens, o professor não precisa se preocupar se
entenderam a informação dada em aula, mas sim se conseguiram estabelecer
relação entre o conteúdo apresentado e a realidade em que estão inseridos, pois
esta relação é fundamental para a apropriação dos conhecimentos. O trabalho
está em despertar o interesse para outras conquistas da humanidade, para além
da tecnologia. Ou seja, a tecnologia não é o demônio do século, pelo contrário,
é uma conquista da humanidade, deve vir a servir essa humanidade e não o
contrário. O homem não pode estar submetido a ela, foi ele quem a criou para
que facilitasse sua vida, diminuísse as distâncias, levasse informação para
ampliar conhecimento de mundo. Mas, para que esse projeto se efetive é preciso
que olhemos para as relações que estamos estabelecendo e o modo como estamos
ensinando esses jovens a fazerem uso dessa tecnologia, o modo como temos
apresentado as demais conquistas da humanidade, conquistas históricas,
matemáticas, artísticas, físicas e químicas. E principalmente, a conquista de
ser e se efetivar enquanto ser humano. 
Podemos entender que sim, são
gerações diferentes convivendo e compartilhando espaços e saberes. São
processos de desenvolvimento diferentes de acordo com o momento histórico que
se dá esse desenvolvimento. Mas, esse convívio de diferentes gerações nos
provoca uma reflexão:  pensando na influência que as relações familiares,
as relações nos ambientes escolares, em que medida temos produzido contextos
culturais facilitadores ou impedidores do desenvolvimento essencialmente
humano?  Pois, nenhuma máquina ou tecnologia é melhor do que um humano
para ensinar o que é ser, essencialmente, humano.
Esse é o brilho máximo dessa
profissão que homenageamos no dia 15 de Outubro. São eles, muitas vezes, a
única possibilidade que muitos jovens possuem de conhecer e se apropriar do que
a humanidade produziu de máximo desenvolvimento. São eles que nos levam a
conhecer desde as descobertas científicas mais elaboradas até o os sentimentos
humanos mais sofisticados, como a confiança, o companheirismo, a admiração e,
principalmente, a segurança de alguém que nos olha como quem acredita que somos
capazes de realizar feitos tão grandes como o que eles nos contam de grandes
homens e mulheres da história da humanidade.
Feliz Dia do Professor, mas acima de
tudo, obrigada por serem Professores!
Fernanda
Pereira Medeiros, orientadora educacional do Centro Educacional Objetivo – Unidade
Centro. Formada em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista – UNESP
Bauru/SP, especialista em Neuropsicologia e mestranda do grupo de pesquisas
Processos de Constituição do Sujeito em Práticas Educativas (PROSPED)
pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
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