COLUNA DO PROFESSOR PEDRO ISAMU MIZUTANI

26 de julho de 2014.
A
cana-de-açúcar como a melhor alternativa
 Pedro Isamu Mizutani
O setor sucroenergético, iniciativa sinônimo
de progresso e sustentabilidade no Brasil, está buscando mais oportunidades
para contribuir com o país. O mercado está em um momento que pode ser
considerado crucial para os produtos derivados da cana-de-açúcar. Não basta
apenas a boa vontade e investimento dos players do segmento, é preciso uma
conscientização do consumidor ao governo, de apostar na cadeia. Os
participantes deste mercado trabalham em prol de que o Brasil ocupe um espaço
de destaque no mercado internacional, em especial com o etanol, e também que o
biocombustível passe a ser oficialmente reconhecido como alternativa ambiental.
No entanto, é preciso somar mais peso ao time.
O
Brasil figura entre os países que subsidiam os combustíveis fósseis. Com a alta
do dólar, a importação dos derivados do petróleo passa a pesar ainda mais na
balança comercial destes países. Portanto, o etanol é uma alternativa no
contrapeso: segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em 10 anos,
o mundo demandará 26 milhões de toneladas de açúcar e o Brasil precisará de 62%
a mais de etanol. Para isso, o país terá que elevar sua moagem em 200 milhões
de toneladas de cana por ano. É o momento de transformar o etanol em uma
commodity.
O fato é que o etanol ainda caminha para ter
um maior reconhecimento de sua capacidade energética e de seu processo
produtivo sustentável. Os holofotes estão virados para o preço, ainda o
principal fator de escolha do consumidor, que em raríssimas situações leva em
conta o fator ambiental no momento do abastecimento de seu veículo. No entanto,
o setor segue apostando no combustível. Um exemplo é o investimento em novas
tecnologias, como o etanol de segunda geração – produto feito a partir do
bagaço, folhas, cascas e outros resíduos da produção da cana-de-açúcar. É uma
alternativa para driblar os altos custos das terras e, em especial, de novas
unidades de produção (greenfileds) A primeira unidade da Raízen do novo tipo de
etanol entrará em produção ainda em 2014. Com a planta, serão produzidos
aproximadamente 40 milhões de litros de etanol de segunda geração por ano. A
fábrica será construída anexa à unidade Costa Pinto, em Piracicaba (SP). Para a
produção do biocombustível, a Raízen já possui um estoque de matéria prima: a
biomassa existente na unidade poderá ser aproveitada tanto para a geração de
energia elétrica quanto para a produção do novo etanol.
Toda a expertise do setor com a criação de um
novo combustível se deve pela experiência de décadas do Brasil com a produção
do etanol extraído da cana-de-açúcar. Em 1975, após a primeira crise do preço
do petróleo, foi iniciado o Programa Pró-Álcool, que tinha o objetivo de
diminuir a dependência das importações de petróleo. Antes disso, por volta da
década de 20, o país já saía na frente ao utilizar o etanol como alternativa ao
impacto de conflitos e crises mundiais. Dos anos 70 para cá, o país desenvolveu
um interesse em ampliar a produção de etanol. Tal incentivo também esteve
relacionado à grande discussão internacional sobre as mudanças do clima e
importância da diminuição de emissão de CO2 na atmosfera. Vale ressaltar que o
Brasil apresenta condições naturais extremamente favoráveis para a produção da
cana, fator determinante para firmar seu lugar como futuro líder do etanol no
mercado internacional.
E não são somente clima e terras favoráveis
que fazem do Brasil um destaque sucroenergético. O país tem tecnologia e
profissionais altamente especializados, e ano-a-ano, vem investindo em
agricultura de precisão e na melhoria do manejo com a finalidade de elevar a
produtividade da cana e, em especial, a eficiência do setor. A melhoria dos
processos no campo é benéfica tanto para a sociedade quanto para o meio
ambiente. Há um melhor aproveitando da terra, redução no uso de substâncias
químicas para controle de pragas e a evolução do plantio e colheita
mecanizadas.
Além da importância para a evolução da
produção de biocombustíveis, o setor sucroenergético contribui
consideravelmente para a cogeração de energia elétrica. Na Raízen, por exemplo,
13 das 24 unidades da empresa possuem infraestrutura para produzir energia a
partir da queima da biomassa. Juntas, as unidades termelétricas têm capacidade
de geração de 940 MW por ano. E o setor tem um potencial de produção ainda
maior.
No início do ano, a Unica projetou que até o
fim de 2014 as usinas de cana-de-açúcar do Centro-Sul poderiam gerar até 14.000
MW por ano, o equivalente a uma usina de Itaipu. Outra vantagem da energia
gerada a partir do processo produtivo da cana-de-açúcar é a localidade das
unidades de produção. Tendo como base que 60% da energia consumida no Brasil
vem do Centro-Sul do país, a mesma região onde estão concentradas as unidades
sucroalcooleiras, há um ganho logístico nas linhas de transmissão,
diferentemente do que ocorre com as fontes eólicas, concentradas na região
Nordeste. Se o fator da proximidade fosse levado em conta, os preços em leilões
de energia baixariam e, com isso, poderiam atrair mais investidores. Por
enquanto, as ações de contingência dos contratempos das hidroelétricas, que
acabam sendo usadas quase que constantemente, são as usinas a gás e óleo (mais
caras e mais poluentes). Sem contar que nem sempre a oferta desses combustíveis
está disponível no mercado.
É importante ressaltar que há espaço para o
crescimento do setor sucroenergético. O Brasil é um dos principais produtores
mundiais de açúcar – a maior parte da produção nacional é escoada para outros
países, como China e Indonésia. Porém, é preciso que, tanto a iniciativa
pública quanto a privada, acreditem que esse é o caminho. As oportunidades
positivas, como o retorno da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio
Econômico) da gasolina, ou seja, o fim do subsídio ao combustível fóssil, e a
valorização da bioeletricidade, devem ser mais exploradas.  Seja no etanol, açúcar ou na cogeração de
energia, a cadeia produtiva do setor é limpa e com um alto valor agregado. Ela
traz desenvolvimento para o Brasil e, principalmente, para as localidades onde
está inserida.
Pedro Isamu Mizutani é vice-presidente de
Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen e professor da IBE-FGV. Cursou
pós-graduação em finanças pela Unimep, MBA em gestão empresarial e mestrado em
gestão na FGV/Ohio University e tem especialização em gestão pela Kellog School
Management, em Chicago.
Compartilhe:
Facebook
Twitter
LinkedIn

Veja também

ESPECIALISTA AVALIA SOBRE A MELHORA DA PERSPECTIVA DA NOTA DE CRÉDITO DO BRASIL

A agência de classificação de riscos Moody´s revisou para cima a perspectiva da nota de …

Deixe uma resposta

Facebook
Twitter
LinkedIn