SETORES INDUSTRIAIS GLOBAIS E OS BENEFÍCIOS PARA OS PAÍSES DE ORIGEM

23 de setembro de 2015.
ARTIGO DE JARIB FOGAÇA
Muito se tem falado
sobre os pilares de sustentação da economia de um país. Vivemos no Brasil
novamente um momento de crise com recessão econômica forte, mas isso não
acontece somente aqui. Se observarmos rapidamente os demais países do grupo dos
BRICS, vemos que cada um deles também está enfrentando alguma instabilidade
econômica e ajustes de produção e consequentemente de mercado com os reflexos
finais na valorização dos seus ativos. Se tomarmos como referência os
principais índices de bolsa, de cada um desses mercados, observamos que:
Na China, o índice
Shanghai (SSE Composite Index) está pouquíssimo acima de 3 mil pontos e há
pouco tempo atrás ultrapassou os 5 mil pontos. E nos últimos cinco anos esteve
na maior parte do tempo abaixo dos 3 mil pontos;
Na Índia, o índice
CNX Nifty está menor que 8 mil pontos e esteve recentemente a quase 9 mil
pontos; mas nos últimos 5 anos, somente em 2014 teve uma elevação forte e se
retraiu bem recentemente;
Na Rússia, o índice
RTS Index está em torno de 750 pontos, e já esteve em mais de 2 mil pontos em
2010, e desde então vem declinando;
Na África do Sul, o
índice JSE está em torno dos 50 mil pontos, já esteve acima dos 55 mil pontos
nos últimos 12 meses, e tem tido grande subida nos últimos 5 anos;
No Brasil, o índice
IBOV da Bovespa está abaixo dos 50 mil pontos. No último ano superou duas vezes
os 55 mil pontos, e há cinco anos estava acima dos 65 mil pontos.
Os números mostram a
volatilidade dos grandes mercados emergentes do mundo, países que têm tido
grandes avanços em pouco tempo e que também têm sofrido impactos dos movimentos
econômicos globais. Por suas características de juventude econômica e ainda um
histórico não muito longo de projeção internacional, a chamada volatilidade,
que neste caso pode se traduzir por fragilidade dessas economias, é grande. É
algo inerente às suas características.
Ainda, apesar do
progresso alcançado em cada um desses países, seja pelo potencial de
crescimento e oferta de oportunidades de negócios e, seja pelos avanços
econômicos já conquistados até agora, e ainda pela presença de grandes empresas
desses países em rankings das maiores companhias do mundo, essas nações ainda
carecem de setores industriais globais fortalecidos. E nesse aspecto podemos
considerar um setor industrial global aquele com característica fundamental, o
fato de não precisar estar na região geográfica do seu mercado supridor nem de
seu mercado consumidor. Isso quer dizer que para ser considerado global seu
centro produtivo pode estar localizado em qualquer parte geográfica do globo e
ainda assim atender o mundo todo. Nesse contexto, os suprimentos da atividade
produtiva também devem ser de origem global. Dessa forma, um setor industrial
global estaria proporcionalmente muito menos suscetível a tais volatilidades e
instabilidades econômicas e mercadológicas regionais, e sofreria muito menos
quando os mercados locais sofrem.
Para se ter uma ideia
mais precisa desse entendimento, apesar desses cinco países terem um grande
destaque mundial por vários fatores, seus principais setores industriais,
respectivamente, ainda sofrem com dificuldades como a grande dependência das
suas próprias economias, do mercado de consumo doméstico e até de seus próprios
recursos naturais para suprirem suas operações, em alguns casos. De uma forma
ou outra, pela origem ou destino de suas atividades, as grandes indústrias
desses países são muito dependentes de seus mercados locais ou concentradas em
outras regiões geográficas, portanto mais vulneráveis em momentos de crise
econômica, principalmente, regional.
Um dos setores
industriais que se apresenta como um dos mais globalizados é o da indústria
Aeroespacial e Defesa (A&D). Ele tem, genuinamente, os dois elementos
fundamentais: insumos globais que podem vir de qualquer parte do mundo e os
destinos de seus produtos que são da mesma forma globais e podem ser fornecidos
a qualquer parte do mundo. A partir do Ranking Forbes, que lista as maiores
empresas do mundo, podemos identificar as companhias que atuam nesse segmento.
Das 21 listadas neste ano, 18 são da Europa e América do Norte,
majoritariamente, dos Estados Unidos. As demais, três, são de fora dessas duas
regiões geográficas, sendo uma de Cingapura, uma da Rússia e uma do Brasil.
Considerado
globalizado, o setor de A&D tem recebido um grande incentivo do governo
brasileiro nos últimos anos. Essa indústria teve várias iniciativas recentes, a
partir da aprovação da Estratégia Nacional de Defesa, por meio do decreto nº
6.703, de 18 de dezembro de 2008; a instituição do Regime Especial para a
Indústria Aeronáutica Brasileira (RETAERO), no Capítulo V da lei nº 12.249, de
11 de junho de 2010 e atualizações subsequentes; o estabelecimento do Regime
Especial Tributário para a Indústria de Defesa (RETID), compondo-se de normas
especiais para o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa incluindo
a disposição sobre regras de incentivo à área estratégica de defesa por meio da
lei nº 12.598, de 21 de marco de 2012; em 2013, o lançamento pelo BNDES do
Plano de Ação Conjunta Inova Aerodefesa, com o apoio da Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep), do Ministério da Defesa (MD) e da Agência Espacial
Brasileira (AEB), o plano de disponibilidade de recursos das Instituições
Apoiadoras no valor indicativo de R$ 2,9 bilhões para 2013 a 2017; ainda em
maio de 2014, em conjunto, o BNDES, Desenvolve SP (Agência de Desenvolvimento
Paulista – Desenvolve SP), Finep e Embraer lançaram o Fundo de Investimento em
Participações (FIP) Aeroespacial, o primeiro dessa natureza na América Latina,
com o propósito de fortalecer a cadeia produtiva aeroespacial, aeronáutica,
defesa e segurança, e promover a integração dos sistemas relacionados a esses
setores pelo suporte ás pequenas e médias empresas.
Setores industriais
com essas características baseados no mercado global enfrentam as crises
econômicas de uma forma muito distinta e, portanto, não de forma localmente
geográfica, preservando assim ainda grandes benefícios econômicos aos países
onde elas estão instaladas. O fortalecimento desses segmentos no Brasil seria
certamente de grande valia e propiciaria novos avanços ao país. Para se ter uma
nação ainda mais forte economicamente, devemos considerar que nossa economia
precisa crescer mais ainda, nos setores industriais de natureza global.
Necessitamos que muito mais indústrias de setores globalizados, sejam
desenvolvidas e instaladas conjuntamente no Brasil, de forma que tais
empreendimentos possam ter como mercado tanto de origem como destino, o mundo
todo, o tempo todo.
Certamente, há vários
setores industriais globais que seriam significativamente benéficos ao Brasil.
Entretanto, a indústria de A&D nos parece muito mais promissora já que
conta com um participante brasileiro e com um grande estímulo governamental por
meio de leis e regulamentos, propiciando e permitindo assim sua expansão mais
rápida e efetiva. Além disso, trata-se de um segmento com alto valor agregado e
com componentes tecnológicos sofisticadíssimos, o que certamente traria ao
Brasil uma grande vantagem competitiva no mundo globalizado e sem fronteiras
que vivemos atualmente.
Jarib Fogaça é sócio
da KPMG Auditores Independentes, líder Setorial em Aeroespacial e Defesa na
KPMG Brasil e diretor na Anefac Campinas.
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