A PERIGOSA INFLUÊNCIA QUE O MUNDO VIRTUAL PODE EXERCER NAS VIDAS DE CRIANÇAS E JOVENS

ARTIGO DE CAROLINA DE SOUZA

Hoje em dia, muito se tem falado em crimes cibernéticos ou cibercrimes (em inglês, cybercrimes), que nada mais é que toda e qualquer atividade ilícita praticada na internet, por meio de dispositivos eletrônicos, como computadores e celulares.

Na verdade, há vários tipos de crimes praticados no mundo virtual. Aqui, vamos destacar como um ambiente virtual – sem limites e fronteiras – pode influenciar negativamente na formação de ideias e ações das crianças, adolescentes e jovens, principalmente.

A tecnologia, ao facilitar a comunicação virtual, com uso da internet, afasta as pessoas de seus vínculos pessoais, acaba com a troca de olhares, com as relações interpessoais e tudo que se aprende devido a essas vivências. A tela foi colocada no lugar dos olhares e toques, tornando as relações e as trocas amorosas assépticas e descartáveis. Devido a isso, não há exigência do compromisso afetivo por nenhuma das partes.

Com as relações familiares e sociais frágeis do mundo pós-moderno de uma sociedade baseada no consumo, com a grande exigência de performance e a pouca garantia para o futuro, requerer, principalmente dos jovens a capacidade para lidarem com cobranças e planos para o futuro nessas condições, os quais não estão preparados, é o mesmo que produzir pessoas frustradas.

A juventude, compreendida entre 15 e 29 anos, lida com mudanças sociais diante de um cenário efêmero e líquido, onde os deveres e as obrigações, as novas formas de vinculação, a evolução tecnológica e a dependência do capital e do trabalho, têm produzido sofrimento psíquico, ainda que afetando todas as faixas etárias.

O cyberespaço como um todo, as redes sociais e a internet permitem a dispensa do contato social puro, viabiliza comunicações anônimas, a invenção de papéis, a possibilidade de experimentar fantasias, desejos e a expor angústias, preocupações e tristezas. Ali, criam-se contatos superficiais, rápidos e fáceis de desfazer, não havendo espaço para a essência natural dos relacionamentos.

Nesse ambiente, as intimidações sem rosto, os conteúdos ameaçadores e impróprios, o assédio e o cyberbulling são facilitados pela dificuldade de imputação ao criminoso. Assim sendo, a internet, as doenças psíquicas e o suicídio estão intrinsicamente ligados quando se depara com o estado de dependência dos internautas pelo acesso ao ambiente virtual.

Na China, um estudo feito em 2010 com adolescente de faixa etária entre 15 e 24 anos, já demonstravam que dos 3.507 investigados, 5,2% demonstraram dependência grave à internet. Destes, 27,4% tinham ideações suicidas, 9,5% tinham o plano elaborado e 2,6% já haviam tentado se matar, sendo este, portanto, o público que mais busca na internet informações sobre o suicídio. Quanto maior o período despendido na frente de uma tela em conexão com a internet, maior a probabilidade de a pessoa ficar à mercê dos crimes virtuais, uma vez que pode passar, de forma individual ou sozinha, mais tempo on-line do que no mundo real e tornar-se suscetível a manipulações midiáticas e psicologicamente vulnerável.

Por isso, é preciso ter atenção, principalmente, nas conexões dos adolescentes e jovens, porque a tecnologia e as redes sociais seduzem e muito. Daí, a necessidade de os pais estarem, cada vez mais, atentos aos comportamentos dos filhos no ambiente cibernético.

Esse assunto é tratado em meu livro “Suicídio e Internet”, recém-lançado pela editora Dialética. O tema é inspirado em minha própria história de vida que, com menos de 10 anos de idade, já havia tentado tirar minha vida intencionalmente. Isso na década de 1990. Nos dias atuais, com tantos recursos e conteúdos facilmente disponíveis, como os smartphones conectados à internet, talvez eu tivesse uma inspiração mais palpável e, em consequência, sucesso em meu intento.

A obra faz uma análise do ato suicídio sob os âmbitos jurídico, sociológico, psicológico, informático e até político. Aprofunda, ainda, a discussão, mostrando o papel relevante da globalização e o vínculo entre a internet e a prática dos atos suicidas. Como também, discorre sobre o marco civil da internet e a participação em suicídio.

No meu entendimento, o suicídio é um movimento social e não somente individual. Conhecer as multifaces do suicídio requer uma pesquisa aprofundada e um estudo sistêmico. Por isso, além da importância de falar sobre esse assunto, é preciso saber o que está acontecendo na vida das crianças e adolescentes e as fronteiras que eles cruzam no mundo virtual. Conversar, demonstrar amor e confiabilidade, perceber os sinais emitidos e, principalmente, interessar-se verdadeiramente e dar amor por aquele ser humano, sabendo que ele não é igual a ninguém. Dessa forma, poderemos contribuir para transformá-los em pessoas mais felizes, como também prevenir muitas doenças e até mortes!

 

Carolina de Souza possui bacharelado em Direito pela PUC-MG/Poços de Caldas, é especialista em Crimes Cibernéticos pela Coursera, Califórnia (EUA) e em Educomunicação para Prevenção do Suicídio pela Fundação Demócrito Rocha e Organização Panamericana da Saúde/Organização Mundial da Saúde. É, também, autora do Livro “Suicídio e Internet”, lançado pela editora Dialética.

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