COLUNA DA MÁRCIA AMERIOT

26 de agosto de 2014.
Política, com P
maiúsculo.
Márcia Ameriot
Com a campanha eleitoral nas ruas e o
horário político gratuito entrando nas nossas casas sem pedir licença e
descendo goela abaixo, impossível não falar desse tema. Como o mestre Paulo
Freire dizia, necessitamos uma educação para a decisão, para a responsabilidade
social e para a cidadania e isso diz respeito à Política, com p maiúsculo.
Sofro quando ouço aquele triste
comentário, cada vez mais comum entre os jovens, que dizem “detestar” política
e “não querer saber nada” do assunto. Creio que confundem Política com partido
político, que são coisas diferentes. Há uma frase rodando pelas redes sociais
que diz que quem não gosta de política acaba sendo governado por quem gosta…
E esse parece ser o problema. Vamos conversar, então, sobre as relações entre
os âmbitos da educação, da política e da cidadania no contexto das
possibilidades reais que a educação tem de construir uma sociedade mais
democrática. Aliás, a educação tem esse caráter político e de formação de
cidadãos críticos, responsáveis e ativos e essa também é uma das
responsabilidades dos educadores.
A educação em si já tem uma natureza
política o que não significa que seja partidária. A “matéria prima”, por assim
dizer, da educação é o ser humano, um “animal” ético, mas inacabado, em
movimento, em construção.
Definitivamente somos capazes de
transformar e transformar-nos como sujeitos políticos e históricos. Essa
dimensão política traz consigo, inevitavelmente, uma luta ideológica e pelo
poder que a educação também pode ajudar a formar em uma busca pelo bem comum:
reconhecer- se como animal político, como dizia Aristóteles desde a época
grega, é reconhecer-se cidadão com direitos e deveres e comprometer-se pelo bem
estar próprio e do outro.
Que tipo de sociedade desejo e
construo? A ação educativa, portanto, compromete a pessoa com o modelo de país
no qual ela espera viver e espera trabalhar.
Além disso, o caráter político da
educação intervém nessa condição, direito ou aspiração dos seres humanos que é
e liberdade. A capacidade de escolher é fundamental na ação humana. A
capacidade de observar, de comparar, de avaliar para escolher mediante a
decisão é exercer cidade e sim, pasmem, se aprende, se educa e pode ser na
escola!
Por isso, uma educação que forma seres
dóceis, conformistas, adaptados ou uma educação que forma para a liberdade,
para a autonomia, para o pensamento crítico e construtivo pode ser opção na
hora de escolher onde estudar, sim senhor.
A educação possui uma dimensão
histórico-política inegável e um papel na formação da cidadania. Uma família
que se diga democrática, que se comprometa com os valores da justiça, da
igualdade, da liberdade, que enfrente a corrupção, deve estar disposta a educar
seus filhos em uma instituição que reze pela mesma cartilha e não voltar atrás
depois no concreto do dia a dia quando o filho “encarar” o pai que fura o sinal
vermelho ou prefere “molhar” a mão do guarda para fugir dos pontos na carteira
de habilitação. Ou só vale combater a corrupção dos políticos profissionais?
Qual o meu compromisso cm a formação cívica dos meus filhos? Parar em fila
dupla? Andar pelo acostamento na volta do feriado?
Propomos uma educação que forme um
cidadão crítico e politizado, com capacidade de questionar, que mantenha
intacta sua capacidade de assombro e surpresa e de perguntar por quê? Como
éramos na infância. Esse é o porto de partida do aprendizado e do conhecimento
– a curiosidade, a humildade de querer saber, o admitir-se não ser dono de
todas as respostas. E é também uma postura política diante da vida. Ter mais
perguntas que respostas. Estar sempre aberto ao diálogo. Não ser dono de
verdades inquestionáveis. Aprender a dialogar porque o processo educativo é
eminentemente relacional – implica considerar que meu pensamento, explicação e
ação no mundo tanto como educador ou educando não está dissociado do “outro”,
que é diferente de mim, que pensa diferente de mim e ainda assim merece todo
meu respeito, mesmo que nunca cheguemos a concordar no campo das ideias.
A formação da cidadania deve ser levado
em conta, não é dada especificamente na esfera do estritamente
“técnico” ou “informativo”, mas entre outras, nas formas em
que as relações entre professores e alunos estão definidos; nas ligações
estabelecidas entre escolas e comunidades; na luta pela melhoria da educação, nas
condições de acesso das crianças e jovens à escola; mesmo nas ações para a
melhoria das condições de trabalho dos docentes. Essas lutas também devem estar
ligadas às que ocorrem diariamente na busca de uma sociedade mais democrática,
justa e humana.
Já para terminar, diria que a educação
constitui uma prática política porque ela realiza, de alguma forma, uma
intervenção no mundo: educar, ir em busca desse sonho,  já é um ato político por si só. Mas há o
sentido que chamo “humanizador” da educação, pois ela
indica o caminho da mudança, do “outro mundo possível” contra as injustiças
sociais, contra a perda dos direitos.  Sempre
haverá um herói, anônimo ou não, que munido de um diploma, consegue ganhar a
luta ou, pelo menos, alguma batalha.
Márcia Ameriot é superintendente da Fundação Romi,
localizada em Santa Bárbara d´Oeste. A profissional, da área de
responsabilidade social empresarial e desenvolvimento local
sustentável,  é jornalista, historiadora e desenvolveu sua carreira
em organizações como o IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do
Investimento Social) e Fundação Tide Setubal. Tem experiência
internacional  na área de violência doméstica e direitos da
mulher, tendo atuado por 12 anos na Itália, Chile e
México, onde foi uma das fundadoras da organização Mujer Integral, da qual foi
representante junto às Nações Unidas nos trabalhos de revisão da Conferência de
Beijig, em Nova Iorque. Márcia é formada em Princípios de Gestão para Organizações do
Terceiro Setor pela Fundação Getúlio Vargas.
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