À BEIRA DO ABISMO

21 de novembro de 2014.
Coluna do Jornalista Vieira Junior
Quando eu era criança, durante as
primeiras aulas de ciências, eu já tinha um certo conhecimento sobre o
funcionamento básico do sistema vivo que é o Planeta Terra. Esse conhecimento
se devia, principalmente, ao meu fascínio pela vida natural e pelo fato de como
o nosso mundo é lindo, equilibrado e perfeito até mesmo em seus “erros”.
Aprendi muito em programas de TV que documentavam de forma muito didática o
funcionamento desse sistema, programas que, em sua maioria, eram transmitidos
pela TV Cultura. Vi como tudo era lindo, mas foi nos bancos da escola que,
enquanto criança, fiz a pergunta que, até hoje, nenhum homem pode me responder:
como pode uma espécie ser chamada de racional se ela mesma destrói o próprio
ambiente?
A primeira vez que ouvi falar sobre
Aquecimento Global e Efeito Estufa foi em uma aula de geografia. Em meio aos
mais de 30 alunos eu senti vontade de chorar, mas não o fiz por vergonha, coisa
de criança. Percebi que todo aquele mundo magnífico e perfeito exibido na TV
estava se desmoronando. Lembro que o vídeo de Al Gore me deixou em choque, mas
com muita vontade de ajudar a mudar tudo. Sai para pesquisar e descobri que os
dois temas que tanto me chocaram eram apenas a ponta do iceberg:
esgotamento dos recursos naturais, consumo desenfreado, desmatamento, poluição,
e por aí foi. Um dia, fiz uma pergunta de leigo, melhor, de criança.
– Professor, na ordem natural das
coisas, a água evapora nos oceanos e permanece na atmosfera em forma de nuvens.
Quando uma frente fria se aproxima, ela empurra o ar quente da superfície da
terra para cima, já que o ar quente é mais leve que o frio, e faz com que
ocorra a chuva, certo?
E ele respondeu que sim. E eu
prossegui:
– Pois então, se estamos derretendo
as geleiras, desmatando as florestas e esquentando o Planeta, corremos o risco
de não ter mais as frentes frias para empurrar esse ar e fazer chover de forma
equilibrada, não é mesmo? Corremos o risco de nunca mais chover!
Todos ficaram parados e me olhando. O
pensamento era simplório e generalista, mas profundo para uma criança. O
professor me disse nunca ter pensado daquela forma, mas concordou com a minha
pequenina tese.
Toda essa história resume o que o ser
humano vem passando frente à crise sem precedentes do Planeta Terra. A fome por
recursos não passa e o nosso Planeta, o único a abrigar vida no espaço, caminha
em passos largos rumo ao seu fim. Curioso é que o homem prefere procurar outro
planeta a conservar aquele que já existe. Velhos de cabeça branca, do alto de
suas experiências, não percebem o que muitas vezes uma criança tem a capacidade
de enxergar antes mesmo de aprender a ler. Talvez seja porque eles deixaram de
se encantar com a riqueza do Planeta em si e escolheram ser fascinados pela
grandeza das suas próprias mãos, do seu próprio ego, mesmo que isso coloque em
risco a permanência da vida e a manutenção da sua própria existência.
Este texto pode parecer um tanto
quanto emotivo e pessoal, mas foi baseado na publicação de um estudo da NASA,
divulgado nesta semana.   Segundo ele, a civilização ocidental segue
o mesmo caminho de impérios como o Romano e Mesopotâmia e está a um salto do
abismo. Um caminho sem volta, potencializado pelas mudanças climáticas e o
crescimento desordenado da população humana. O homem não encara o fato de que
não pode ser a única espécie no mundo e ignora os alertas do clima. O mundo
está acabando, sim, e não haverá outro planeta. Pode ser que daqui a alguns
anos as imagens de um paraíso onde tudo é equilibrado e lindo fiquem apenas nas
lembranças de infância ou gravações de uma fita de vídeo. Pena que não haverá
ninguém para ver.
Vieira
Junior – Jornalista, pós-graduando em Administração de Empresas pela Fundação
Getúlio Vargas (IBE-FGV)
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