A CONFIANÇA, A ESPERANÇA E O FIM DO CICLO VIRTUOSO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

14 de agosto de 2015.
ARTIGO DO PROFESSOR MARCOS FONTES
A conjuntura atual mostra que estamos
presenciando o fim do maior ciclo virtuoso da cadeia da Construção Civil na
história do país. É o pensamento pequeno, de novo.
Vivenciamos nos últimos cinco anos um
período sem precedentes na Construção Civil e no mercado imobiliário, um dos
maiores setores geradores de emprego e renda, responsável diretamente por mais
de 10% do PIB nacional.
Este movimento, neste breve período,
foi catalisado pelo crédito imobiliário, cujo volume atingiu 8% do PIB,
amplamente disponibilizado a todas as faixas de renda, ratificando a famosa
fala do ex-presidente: “Nunca antes neste país”. De fato, nunca antes neste
país ofertou-se (Estado e Mercado) tanto crédito imobiliário em tão boas
condições e para todas as faixas de renda familiar, a partir de zero real por
mês.
Ao que tudo indica vamos colocar fim
a este ciclo devido a dois fatores muito impactantes.
O primeiro diz respeito à inanição do
crédito. Seja pelo esgotamento dos fundos que financiam habitação e mercado
imobiliário, como da poupança e do FGTS. Da velha poupança pela sangria dos
depósitos provocada pela insegurança das famílias e pela queda da competividade
do popular investimento. Do funding FGTS, pela crise política instaurada.
Lembrando que provavelmente, deve ser aprovada a correção dos saldos das contas
do FGTS semelhante aos rendimentos da poupança a partir de 2016.
Este primeiro fator torna as
condições de financiamento não atrativas devido à necessidade das instituições
financeiras praticarem taxas mais elevadas. Juros altos, inflação e correção
elevada dos saldos devedores derrubam de vez a viabilidade do crédito nos
patamares praticados antes da alta da SELIC e da inflação acima dos 9% ao ano.
Mas, a demanda por casa e
investimento em imóveis existe ainda, ela é real. O déficit habitacional ainda
está na casa dos seis milhões, segundo estudos sérios. As famílias continuam se
formando ano a ano e é cada vez mais jovem o perfil do tomador de financiamento
imobiliário. O Banco Central faz balanços periódicos e atesta a saúde do
mercado financeiro e de crédito, descartando qualquer possibilidade de bolha
imobiliária. Os fundamentos do crédito imobiliário brasileiro continuam rígidos
e gozando de saúde.
Todo este cenário poderia superar as
adversidades das condições atuais desfavoráveis de crédito não fosse o outro
fator, acima descrito, que coloca gelo nesta fervura, catalisando o desânimo.
Trata-se do fator confiança. Um processo que abala todas as outras molas
propulsoras da economia.
São sinônimos de Confiança: Crédito
(de ter crença), Esperança e Segurança. É o ato de confiar na análise se um
fato é ou não verdadeiro, devido a experiências anteriores, através de um
cruzamento de informações. Refere-se a dar crédito, considerar que uma
expectativa sobre algo ou alguém será concretizada no futuro.
Exemplo claro foi o rebaixamento da
nota de avaliação de risco soberano do Brasil e de várias empresas nacionais,
privadas e públicas feito por uma conceituada agencia internacional de risco.
Outras devem tomar o mesmo caminho.
Este é o fator preponderante que está
destruindo o ciclo virtuoso, a falta de confiança. Tanto de quem empreende,
investe, produz e disponibiliza os produtos e serviços como de quem se
interessa em adquirir esses produtos mediante financiamento e endividamento.
A crise é sim de confiança, propagada
pela crise política. Infelizmente nosso país, nossas leis e nossos programas
são ainda de governo e a dependência do momento político do governo nos faz
crer que um novo ciclo só deve se formar com a comunicação de boas notícias,
sistematicamente propagadas durante um período.
Neste momento, e com este cenário, os
empreendedores procuram projetos menos rentáveis apenas para manter seus bons
empregados, treinados com muita dificuldade, num período de escassez de mão de
obra.
Os atores deste mercado imobiliário e
da Indústria da Construção devem pelo menos acreditar que a crise pode ser
passageira e que não desmobilizem a boa estrutura formada para atender a forte
demanda que o país desenvolveu nos últimos anos.
Esperança precisa ser o melhor
significado de confiança.
Marcos Fontes é professor de Economia da IBE-FGV especialista nas áreas de Finanças e Imóveis com ênfase em crédito imobiliário e construção civil.
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