ARTIGO – O PODER INEFICAZ DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

Airton Cicchetto
Com uma contribuição de cerca de 25%,
a indústria brasileira é geradora de um PIB aproximado de 550 bilhões de
dólares. Para entender a magnitude desta cifra, pode-se dizer que a indústria
nacional representa, por si só, o 25º PIB do mundo, estando a frente de mais de
200 países, entre eles, importantes economias como as da Bélgica, Suécia,
Suíça, Chile, entre muitas outras. Ainda, o PIB da indústria nacional é maior
do que o conjunto das economias somadas de mais de 100 países, mundo afora. O
complexo industrial brasileiro é bastante diversificado, congrega centenas de
milhares de empresas e milhões de empregados.
A união faz a força e esta força é
feita pela associação de quase 700 mil industrias e 1.250 sindicatos patronais,
conforme dados da sua entidade máxima, a Confederação Nacional da Indústria
(CNI). Como se pode ver, os números demonstram uma força muito expressiva,
porém, força não ganha jogo. O jogo dos negócios se ganha com competitividade,
atributo que nossa gigantesca indústria vem perdendo continuamente.
Hoje, o Brasil situa-se na 54ª
posição no ranking de competitividade dos países, elaborado pela escola suíça
de negócios IMD e a Fundação Dom Cabral. Há 4 anos o Brasil ocupava a 38ª
posição neste mesmo ranking, o que significa dizer que em 4 anos, 16 países
ultrapassaram os níveis de competitividade do Brasil. Internamente, no país, a
indústria também perde posição, pois há menos de uma década, representava mais
de 30% do PIB nacional. Nos últimos trimestres, a produção tem encolhido ainda mais,
acarretando, inclusive, severa redução do nível de emprego no segmento
industrial.
Claramente, há problemas e, mais do
que ninguém, os senhores da indústria sabem que o roteiro para solução de
problemas passa pela identificação de suas causas e implementação de planos
concretos de solução. Pois bem, as causas de nossa baixa competitividade estão
diagnosticadas, são experimentadas diariamente pela imensa maioria dos milhões
de gestores de negócios e empresários do Brasil, e também vem sendo insistentemente
veiculadas na mídia, escrita e falada, nos artigos, sínteses e comentários de
analistas econômicos locais e também do exterior.
Para relembrar são estas as causas
principais: pesada carga tributária, encargos trabalhistas mais altos do mundo,
má qualidade da infraestrutura física (rodovias e portos deficientes), taxa de
câmbio manipulada e posicionada em níveis nocivos aos interesses da indústria
local, alta burocracia e corrupção no serviço público, ambiente generalizado de
desconfiança, nível de investimentos insuficiente para alavancar maior
crescimento da economia, entre tantas outras mazelas.
Pois bem, os problemas estão
identificados há muito tempo e suas soluções já deveriam estar em andamento. A
indústria, a maior prejudicada, deveria por meio de sua entidade máxima, a CNI,
estar usando seu mencionado poder, movendo sua enorme força no sentido de
pressionar o governo a fazer o que deve ser feito, fazer a coisa certa.
Atitude, aliás, alinhada com a sua missão, que prega: “defender e
representar a indústria na promoção de um ambiente favorável aos negócios, à
competitividade e ao desenvolvimento sustentável do Brasil”.
Este não parece ser o caso, pois os
representantes da indústria vêm dialogando com o governo há muito tempo, como
fizeram 34 empresários na última semana e, aparentemente, tem se satisfeito com
medidas paliativas de ajuda a um ou outro setor que, sabidamente, não corrigem
as causas básicas e não focam o resultado desejado que é o aumento real da
competitividade das empresas e do país.
Peter Drucker define eficácia como
fazer a coisa certa, com foco no resultado. Não é, exatamente, o que o governo
vem fazendo e, por sua vez, a indústria, por meio de seus representantes, não
tem exigido do governo uma atuação mais assertiva. A indústria, sabe-se lá as
razões, não tem usado seu grande poder. A propósito, diga-se, um poder mal
utilizado, que não denuncia malfeitos, não pressiona por soluções, não foca
resultados, vem minguando e se revelando, embora imenso, um poder ineficaz.

Airton
Cicchetto é
consultor, palestrante empresarial, engenheiro, mestre em administração e
idealizador do modelo SCG – Simples Complexo Gerencial – Simplificando a
Gestão. 

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