ARTISTAS FRUSTRADOS DO FACEBOOK

19 de dezembro de 2014.
COLUNA DO JORNALISTA VIEIRA JUNIOR
Nesta
semana, o polêmico criador do também polêmico site WikiLeaks, Julian Assange, escreveu
no The New York Times um texto um tanto quanto perturbador, característico de
suas invenções. Segundo ele, o negócio do Google e do
Facebook é “a destruição industrial da privacidade”. Uma verdade explícita e só
menos aberta do que a escancarada vontade das próprias pessoas em mostrar as
suas vidas nas redes sociais, seja por puro despreparo para utilização das
redes ou para preenchimento de um ego que se fere a cada dia com a decepção de
não estar nas páginas das revistas.
Assange escreve com a
prioridade de quem quebrou sigilos históricos de superpotências em todo o mundo
e alerta para o que parece ser mera bondade das empresas. Segundo ele, o modelo
de negócios das redes sociais é perfeito. Quem não gosta de comprar algo de
graça? Pois é justamente essa promessa que as empresas fazem. Alguém paga para
ter uma conta no Facebook ou Gmail? Assim, essas ferramentas acabaram se
tornando uma grande arma de vigilância, seja para empresas ou governos.
Contudo, o que Assange não abordou em seu artigo é que as pessoas fazem porque
simplesmente gostam. Elas, inclusive, sentem a necessidade de contar sobre as
suas vidas nas redes. São os artistas frustrados das redes socais, que se
apresentam de graça em troca de míseras curtidas e comentários.
Vivemos não só em um
estado de vigilância, mas em uma sociedade de vigilância que cresce em
monitoramento da vida das pessoas, inclusive, pela vontade das próprias
pessoas. O desejo de ser vigiado parece ser algo cultural, instintivo, algo
quase que existencial. Para Assange, a vigilância totalitária não está apenas
em nossos governos, mas está incorporada na nossa economia, em nossos usos
mundanos da tecnologia e em nossas interações cotidianas. De fato, qual a real
necessidade de viajar de lua mel e postar a foto do quarto ou da paisagem do
lugar? Deteriora-se um momento íntimo, outrora tratado até mesmo com certa
timidez entre as pessoas, em prol do preenchimento de um ego que se arrastou
vazio por anos. As pessoas têm feito de suas páginas nas redes sociais
verdadeiras colunas sociais, onde mostram que, sim, estão muito bem, obrigado,
e que o sucesso é latente à sua existência. Caras e Contigo agora são o “feed
de notícias” de cada usuário, a diferença é que fazem isso de graça, expõem as
suas vidas e preenchem um ego tão efêmero e vazio quanto as atualizações de uma
página de Facebook.
Vieira Junior,
jornalista, pós-graduando em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio
Vargas (IBE-FGV).
Compartilhe:
Facebook
Twitter
LinkedIn

Veja também

EMPRESA BRASILEIRA É APROVADA PARA PARTICIPAR DO PACTO GLOBAL DA ONU

Sophia Martins, um dos principais nomes do mercado imobiliário no Brasil, integrará o Pacto Global …

Deixe uma resposta

Facebook
Twitter
LinkedIn