COLUNA DA MÁRCIA AMERIOT

Futebol, cultura e
identidade nacional.
Márcia Ameriot
Muitos consideram o futebol como uma forma de cultura. Trata-se de uma
opinião discutível. Os Jogos Olímpicos definiram, na Grécia de Sócrates e
Platão, uma maneira de interpretar a vida. Mas apenas superficialmente podem
entender-se os espetáculos esportivos como manifestações culturais. A
literatura, a pintura, a arquitetura, a música, a dança, a filosofia, o cinema
e as artes estão no centro das manifestações culturais. O esporte, não. É outra
coisa. Ainda que toque superficialmente o mundo da cultura.
Na maior parte dos países, o futebol assumiu uma dimensão de tal
magnitude que exige um tratamento a parte. É inegável a paralisia que ocorre
quando se realizam determinadas partidas tanto em escala nacional como internacional.
José Ortega y Gasset, filósofo espanhol morto em 1955 e que também se destacara
como ativista político e jornalista, costumava dizer que o futebol havia
substituído, por sorte, o fervor do homem pela guerra…
De alguma forma, afirmação do literato não fica no passado. Há um quê de
épico nas disputas futebolísticas que revivem rivalidades históricas. Assim,
num Brasil vencedor ou numa Argentina triunfadora sobre equipes europeias há
sempre o eco da vingança contra os colonizadores do passado. E houve quem
torcesse por um histórico confronto entre Argélia e França nessa Copa do Mundo
de 2014 para um histórico acerto de contas com contornos épicos, já que é comum
que as equipes africanas recebam a benevolência e a torcida contra as
“opressoras” europeias. Ainda que grande parte das equipes, inclusive as da
Copa atual sejam miscigenadas – é só olhar a seleção alemã, para citar um
exemplo, com jogadores de origem africana e turca entre seus titulares, num
reflexo de um mundo globalizado e antixenófobo desse nosso século 21.
Mas futebol é paixão, disso não duvidamos. Essa épica violência tem
feito parte do esporte desde sempre. É o orgulho nacional, “a pátria em
chuteiras”, parafraseando Nelson Rodrigues. Será cultura?
Pintores ilustres, grandes poetas e escritores e cineastas trataram o
tema em sua obra. Falaram da paixão do esporte das multidões. Isso significa
que o futebol em si mesmo seja uma expressão cultural?
Fica o debate. Um esporte que tem o poder de parar a vida de um país e
que congrega diante da televisão a milhões de pessoas forma ou não parte da
cultura? A questão não pode ser mais interessante? Foi cultura o circo romano?
É cultura uma partida entre Brasil e Argentina, entre as equipes do Real Madri
e o Barcelona?
Para responder seria necessário chegar a uma definição perfeita de
cultura. E isso me parece uma proeza quase inalcançável. Em nosso país, é
inegável que o futebol faz parte da construção da identidade nacional. Somos
samba, ginga e futebol. Para um país tão heterogêneo e fragmentado por
interesses regionais, a construção da nacionalidade brasileira teve no futebol
um dos seus principais alicerces e, se não é cultura, o futebol é um fenômeno
sociocultural.
Márcia
Ameriot é superintendente da Fundação Romi, localizada em Santa Bárbara
d´Oeste. A profissional, da área de responsabilidade social empresarial e
desenvolvimento local sustentável,  é jornalista, historiadora
e desenvolveu sua carreira em organizações como o IDIS (Instituto
para o Desenvolvimento do Investimento Social) e Fundação Tide Setubal. Tem
experiência internacional  na área de violência doméstica e direitos da
mulher, tendo atuado por 12 anos na Itália, Chile e
México, onde foi uma das fundadoras da organização Mujer Integral, da
qual foi representante junto às Nações Unidas nos trabalhos de revisão da
Conferência de Beijig, em Nova Iorque. Márcia é formada em
Princípios de Gestão para Organizações do Terceiro Setor pela Fundação Getúlio
Vargas.

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