COLUNA DO JORNALISTA VIEIRA JUNIOR

Por que a Copa, a
seleção e a economia não decolaram?
Vieira Junior
Talvez essa não seja uma pergunta que
se deva responder com uma única frase dada à complexidade do assunto. Inflação
alta, economia estagnada, confiança baixa… Seria culpa da Copa do Mundo? Não!
A culpa é da maneira com que ela foi feita e administrada no Brasil, que
transformou uma grande oportunidade em motivo de desentendimentos entre
partidos, empresários, investidores e a própria população.
Precisamos analisar o cenário que a
Copa do Mundo, uma grande paixão dos brasileiros, encontrou ao chegar no
Brasil. Um ano antes do início do evento, a população tomava as ruas com
reivindicações de melhorias em moradia, transporte, saúde, emprego, segurança,
saneamento básico, educação, etc. O leitor consegue perceber a importância
desses assuntos frente à Copa? Não que ela não seja importante, mas, se toda
essa história fosse um bolo de aniversário, por exemplo, a Copa seria a cereja.
O problema é que os brasileiros ficaram com a sensação de que gastamos todo o
dinheiro com a cereja sem ter sequer a farinha para o bolo.  E quem
conhece o preço da cereja, fica um tanto quanto constrangido de participar
dessa “festa”.
Uma pesquisa feita pela Pew Research
Center, antes do início da Copa, já alertava sobre esse cenário. Comparando os
dados anuais entre 2010 e 2014, o percentual de insatisfação geral com o país
cresceu de 49% para 72% e o de satisfação caiu de 50% para 26%. Na economia, o
percentual dos que achavam que a situação era ruim subiu de 29% para 49% e o
sentimento de que haveria uma grande melhora caiu de 51% em 2012 para 20% em
2014.
Pra muitos especialistas, o Brasil
vive uma crise escondida, abafada pelos holofotes da mídia e dos interesses das
eleições. Conhecido como o Sr. Dinheiro, o economista Luís Carlos Ewald já
aconselhou, durante entrevista à Época Negócios, que ninguém compre carro ou
imóvel em 2014. “Todo mundo diz que a Copa vai ser muito boa para o Brasil, mas
depois que o evento passar não haverá mais investidores no país, pois estão
todos com medo”, disse.
Trazida ao país com a intenção (ou
desculpa) de movimentar o país do futebol, a estratégia da Copa do Mundo dá
cada vez mais sinais de que fracassou. A maioria dos brasileiros está
pessimista com o resultado do evento, tanto em questões econômicas como de
exposição. Para 39% da população, a imagem internacional do país vai piorar,
enquanto 61% pensam que a realização do torneio em solo brasileiro não foi um
bom negócio e que o dinheiro deveria ter sido investido em educação, saúde,
entre outras áreas básicas.
Após analisar friamente esses
números, a resposta para o título deste artigo se torna uma tarefa simples: a
copa, a seleção e a economia não emplacaram porque o evento foi enfiado goela
abaixo aos brasileiros, que preferiam outros pratos. Tivemos que aceitar
investimentos bilionários em estádios na Amazônia e continuamos vendo os
habitantes locais isolados em comunidades sem saneamento básico. Engolimos
também o Corinthians, uma instituição privada, construindo estádio com dinheiro
público. Desceu aos nossos estômagos os estádios mais caros, precários e
inacabados da história das Copas e as promessas de infraestrutura, o grande
legado do torneio, nunca se cumpriram. Onde está o TAV (Trem de Alta
Velocidade)? Receio que nem meus netos o verão!  No fim, todos ficaram com
medo ao conhecer o poder do amadorismo da administração pública brasileira e
tiraram o time de campo. O efeito colateral não poderia ser diferente: enjoos,
náuseas e ânsias de vômito. Quem come o que não presta, passa mal a noite toda.
 
Vieira
Junior, jornalista pós-graduando em administração de empresas pela FGV 

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