CORRUPÇÃO PADRÃO FIFA

06 de junho de 2015.
ARTIGO DE TOM COELHO

Apenas uma semana. Este foi o tempo
necessário para eclodir um dos maiores escândalos envolvendo o futebol em
âmbito mundial. Primeiro, a prisão de sete dirigentes ligados à Fifa, a pedido
da justiça norte-americana, com base em investigações promovidas pelo FBI desde
2011. Agora, a renúncia de Joseph Blatter, presidente eleito recentemente para
seu quinto mandato consecutivo à frente da entidade.
As suspeitas apontam para um esquema
de corrupção generalizado envolvendo contratos de marketing, direitos de
imagem, além das disputas para sediar os torneios da Rússia, em 2018, e do
Catar, em 2022. E, certamente, isso é apenas o início.
No mundo do esporte, o nome do jogo é
jogatina. Há duas semanas o Banco do Brasil suspendeu o patrocínio à
Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) após descumprimento do acordo firmado no
ano passado para gestão lícita dos recursos financeiros, devido a investigação
da Controladoria Geral da União (CGU) que levou, inclusive, à renúncia do então
presidente Ary Graça, no comando da entidade desde 1995.
Na semana passada, o Santos Futebol Clube
ingressou com ação formal para contestar os valores da transferência de Neymar
Júnior para o Barcelona, em 2013, num processo há tempos sob investigação da
justiça espanhola.
Goste você ou não de futebol,
frequentando ou não estádios, à distância é possível observar como a corrupção
graceja. Você assiste a imagens na TV de uma partida qualquer, em um estádio
com capacidade, por exemplo, para 50 mil torcedores. E embora não exista espaço
para passar um fio dental entre duas pessoas, ao término da partida a renda
anunciada informa a existência de pouco mais de 35 mil pagantes…
Ano passado, sediamos a “Copa do
Mundo Padrão Fifa”. Faltando apenas um mês para o início do torneio, das 167
intervenções anunciadas pelo governo federal em sua “Matriz de Responsabilidades”,
documento oficial elaborado em 2010, apenas 41% das metas haviam sido
concluídas!
A lista de ações prioritárias era
formada por estádios, aeroportos, segurança, tecnologia, telecomunicações e
mobilidade, sendo esta última, a mais negligenciada – apenas cinco das 36 obras
foram concluídas até o final do ano. Ou seja, exatamente o item que maior
legado poderia render aos cidadãos através de transporte público. Entretanto, o
resultado final foram obras inacabadas, canteiros de obras a céu aberto, e o
pior, o estouro no orçamento. Segundo a Controladoria Geral da União (CGU), o
custo total das obras superou o orçamento em 66%.
Vivemos tempos difíceis, em que está
se tornando impossível falar sobre ética, porque não se pode argumentar sobre o
que não existe… Balanços financeiros maquiados, números forjados. Fraudes,
conluios, subornos, propinas, escolha o nome que julgar mais conveniente.
Empresas fraudam, executivos mentem, auditores omitem, analistas recomendam.
Como diz o velho adágio popular, papel aceita tudo.
Este novo mundo é governado pela
ditadura da imagem. O triunfo da estética sobre a moral. Um mundo de Narciso
que afeta pessoas e corporações. Você é tão belo quanto seus trajes e seu
último corte de cabelo possam sinalizar. Tão bom quanto a procedência dos
diplomas e a fluência em idiomas possam indicar.
Em tempos passados, ocasião que meus
olhos não se atrevem a enxergar, a “embalagem” era menos representativa. As
empresas eram aquilo que produziam. As pessoas eram o que demonstravam. Éramos
mais essência. E mais essenciais.
Houve uma época na qual preços eram
formados para remunerar custos e proporcionar uma margem de lucro. Hoje, são
constituídos às avessas, embutindo ganhos escusos e extorsivos que favorecem a
poucos.
Balanços fraudados, currículos
forjados, amores burlados. Vidas vividas na ilusão, imaginadas como devaneios à
luz de uma quimera.
A Quimera era um monstro mitológico
com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente. Imagem nada agradável
que, mais cedo ou mais tarde, materializa-se, ao cair do véu da percepção que
não carrega consigo conteúdo, sinceridade e
paixão.                                           
Tom Coelho é educador, palestrante e escritor.
Diretor do Ciesp e Conselheiro do Conselho Superior de Responsabilidade Social
da Fiesp. E-mail[email protected].
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