POR UMA POLÍTICA DE ESTADO PARA O SETOR NUCLEAR BRASILEIRO

10 de outubro de 2015.
Na mesa redonda de encerramento da INAC
2015, ocorrido nesta sexta feira (09/10), no Centro de Convenções Rebouças, em
Pinheiros, em São Paulo (SP) os palestrantes convidados apontaram para a
urgência de se criar uma política de estado para o desenvolvimento de um
programa nuclear brasileiro. E também de se construir canais de comunicação que
melhorem a imagem do setor junto ao público, à mídia e classe política, entre
outros.
Em sua apresentação, Rex Nazaré,
responsável pela DPEN – Diretoria de Projetos Estratégicos Nacionais, da Finep,
observou que um governo dura quatro ou oito anos, enquanto uma central ou
qualquer outro projeto nuclear demora 10 a 12 anos. Esse fato, a seu ver, ajuda
a explicar porque um programa nuclear tem que ser uma política de estado e não
de governo, pois precisa de continuidade.
Depois de relacionar as diversas
condicionantes que envolvem um programa nuclear e as idas e vindas das
iniciativas nucleares do Brasil, como a prospecção de urânio, paralisada nos
anos 80, Nazaré destacou. “ Se o Brasil quer realmente um programa nuclear
precisa ter imagem de país confiável, neutralizar desconfianças, estabelecer um
programa mínimo adequado às condições nacionais e adaptável, capaz de recuperar
a credibilidade na continuidade”.
Consciente de que a falta de um
programa para o setor tem levado seus representantes e entidades a mendigar
recursos e investimentos, algo que considera inaceitável, Nazaré explicou que,
à frente da DPEN, vem invertendo essa situação. “Tenho buscado contato com
essas entidades e obtido excelente cooperação, com isso começando o primeiro
rascunho de um plano, recuperando iniciativas abandonadas e começando a somar
esforços”, acrescentou.
Paulo Barreto, da Universidade do
Texas, enfatizou a importância dos resultados sociais. “Um programa nuclear
eficiente deve ser considerado como parte de um projeto maior, que seja
estratégico para o desenvolvimento socioeconômico”. E o professor José Roberto
Castilho Piqueira, da Escola Politécnica da USP, por sua vez, mostrou que para
o sucesso de um programa nuclear é imprescindível abordar a questão
educacional, tanto para formar pessoal capacitado, como para atrair o interesse
dos estudantes na hora que definem a a carreira a seguir, como para fixar na
área esse profissional recém formado.
Na mesma linha de raciocínio, e justificando
o motivo que levou a ABEN a escolher o tema “O Programa Nuclear Brasileiro:
Política de Estado para um Desenvolvimento Sustentável”, Edson Kuramoto
observou. “Tomamos essa decisão porque víamos que o setor estava parado, até
retrocedendo, e resolvemos trazer delegações de países com programas nucleares
bem-sucedidos para apresentar à comunidade como ocorreu os seus
desenvolvimentos. E todos concluímos que para ter continuidade é preciso uma
política de Estado, que não só estruture e libere recursos financeiros, mas que
tenha uma coordenação”.
Um dos problemas graves, a seu ver, é
que não está havendo a formação de recursos humanos adequada à realidade do
setor. Com isso, a idade média no setor é elevada, e a falta de renovação do
quadro de especialistas leva à perda de conhecimento. “Na verdade”, conclui, “
o programa nuclear brasileiro tem sobrevivido à base de lutas individuais”.
E a integração das diversas áreas que
exercem atividades nucleares no Brasil é o que mais falta ao setor, na opinião
de José Augusto Perrota, da CNEN, coordenador técnico do projeto do RMB –
reator multipropósito brasileiro. “É preciso um órgão do estado que coordene as
atividades dos diversos envolvidos. Internamente cada um está cumprindo sua
função, mas falta uma entidade central que aglutine”, observa.
Kuramoto lembrou também que a Aben
desenvolve programa de aceitação pública desde o início dos anos 90. E
acrescentou que, como tem sido muito difícil entrar na mídia com o assunto
nuclear, a não ser quando ocorre um acidente nuclear como o de Fukushima, a
Aben também tem tentado outros canais para mostrar o grande benefício
socioeconômico da tecnologia nuclear.
Mas, na conclusão de Paulo Barreto, se
não existe vontade política de criar um programa de longo prazo, uma política
de Estado, não se consegue muito, se não existe uma decisão política serão
sempre iniciativas individuais destinadas a um êxito de curto prazo.
Foto: Encerramento da INAC 2015 em São Paulo.
Crédito: Divulgação.
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