A DEVASTAÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL

19 de junho de 2015.
COLUNA DO JORNALISTA VIEIRA JUNIOR

No fim de 2014, pude
vivenciar algumas das experiências mais incríveis de minha vida, proporcionadas
por um casamento ansiosamente esperado e acompanhado de uma viagem igualmente
aguardada para a cidade de Bariloche, na Patagônia argentina.  As paisagens tomadas pelo gelo encantaram.  Não era inverno e as temperaturas não estavam
tão baixas assim, o que nos revelou outra cidade: muito verde, azul e cores que
não consigo descrever. Em um dos passeios, subimos o monte chamado “Cerro
Tronador” (que traduzido quer dizer Morro do Trovão), batizado assim pelo som
que emite quando o gelo se quebra nessa época mais quente do ano.
Como se tratava de um
lugar mais alto, as temperaturas eram mais baixas: -4°C. Encantado e já
apaixonado pelo lugar, senti como se aquele pedacinho do país “hermano” também
fosse meu. Esquecendo-me das fronteiras e das diferenças políticas e culturais,
tornei-me parte daquele lugar. Entre fotos e vídeos, criei dentro de mim um
espaço especial para guardar a Patagônia, especialmente Bariloche.
Foi quando, olhando
para a imensa geleira negra rodeado de um lago azul formado à nossa frente, o
guia argentino tomou a palavra e disse. “Esta é a geleira do Cerro Tronador. Há
50 anos, ela chegava bem aqui, onde estamos. Hoje, notem que há uma distância
de aproximadamente 50 metros até ela. Esse lago azul que a rodeia não existia,
mas, a cada ano, o inverno é mais curto e quente, o que faz com que o gelo
diminua. Calculamos que, até 2030, ela deixe de existir e vire apenas água”.
O encanto deu lugar à
tristeza. Senti-me como se estivessem roubando de mim. Sei que muitos poderiam
pensar: “mas esse país nem é seu”. Contudo, o sentimento que me tomou naquele
momento foi de completa impotência diante da destruição de um lugar que, apesar
das fronteiras, fazia parte do meu mundo. Aquele lugar, para mim, não era mais
da Argentina, Brasil ou qualquer outro país, mas sim do Planeta Terra. Em uma
escala pessoal, senti na pele a destruição do Aquecimento Global. Foi como se
eu pudesse sentir o tamanho da sua força, destruindo sonhos, lembranças,
lugares, transformando paisagens e condenando à extinção o mundo como
conhecemos hoje.
Trazendo para uma
escala mundial, o Aquecimento Global pode, de fato, representar a extinção da
espécie humana e de milhares de outras formas de vida no Planeta. Estudos
apontam que a temperatura média no mundo pode subir até 6°C até 2100. Eu disse
MÉDIA. Em alguns países a vida pode se tornar insustentável pelas altas
temperaturas. Além disso, essa mudança já começa a alterar completamente a
distribuição de chuvas, afetando a produção de alimentos, a disponibilidade de
água para indústria, comércio e consumo humano. Uma pequena prova disso é a
realidade vivida nos últimos meses pelo Brasil. O país considerado “berço das
águas” viu a região mais rica de seu território, a sudeste, sofre pela falta de
água. Até mesmo a Amazônia, fonte do mundo, vem sofrendo ano a ano com a seca.
Não é só a geleira de Bariloche que está pedindo socorro!
A situação requer
medidas e mudanças drásticas. É verdade que pequenas mudanças de comportamento
nas próprias pessoas podem ajudar, mas elas não serão suficientes para frear
esse processo de extinção. É preciso que as lideranças dos países, sobretudo os
mais desenvolvidos e que se beneficiaram até hoje do que o Planeta pode
oferecer, se comprometam e criem um plano agressivo de redução do impacto das
atividades da economia em todo o mundo para o meio ambiente.
No início desse mês,
tivemos um esboço de um empenho maior do G7. A chanceler alemã, Angela Merkel,
pediu que o grupo de líderes dos países concorde em limitar o aumento das
temperaturas médias globais a 2°C acima dos níveis pré-industriais, alertando
que sem tal comprometimento um acordo climático mais amplo pode falhar. Merkel,
apoiada ao menos no discurso pelo presidente Norte-Americano Barack Obama,
liderou a ideia de que os países precisam enviar um forte sinal de redução dos
gases do efeito estufa antes da reunião climática das Nações Unidas de
dezembro, em Paris. Os líderes, então firmaram acordo de apresentar medidas
para se atingir essa meta. Nesta semana, até mesmo o Papa Francisco pediu às
autoridades mais clareza e firmeza no estabelecimento de metas para redução dos
impactos ao Planeta. Contudo, ainda considero as iniciativas fracas, demoradas
e sem o devido senso de urgência que o tema requer.
Após a leitura desse
texto, certamente haverá quem diga que medidas mais drásticas colocariam em
colapso a já fragilizada economia mundial. A esses, deixo o som das gotas da
geleira de Bariloche, o estalar das folhas secas na Amazônia e barulho de ar
nas torneiras de São Paulo. Deixo, ainda, uma pergunta: que economia poderá
resistir sem um Planeta? Não agir agora é garantir o conforto da geração atual
e a extinção da próxima, que nem está tão distante assim, afinal, são apenas 80
anos para o desastre.
Vieira Junior,
jornalista, pós-graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio
Vargas (IBE-FGV)
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