FANATISMO NO COMANDO

19 de novembro de 2015.
ARTIGO DO CEO DA ATMO EDUCAÇÃO MARCELO VERAS

Ainda estamos estarrecidos com os
últimos atentados terroristas na França. Mais de uma centena de inocentes
mortos por causa de fanatismo religioso. Está tudo meio estranho, meio confuso.
O mundo virou um barril de pólvora. Nunca foi muito indicado se cultivar 100%
de segurança e confiança em nada ou em ninguém, mas, ultimamente, parece que a
situação está ainda mais complicada. Parece, na verdade, que vivemos a maior
crise de descrédito dos últimos tempos. E o pior é que ninguém sabe como isso
tudo vai acabar, se é que vai acabar. A crise de confiança é total.
Fiz um post recente na
minha página do facebook recomendando um ótimo livro que estou lendo (Sapiens: Uma breve
história da humanidade, autor Yuval Harari, 2014). Essa viagem pelos últimos 45.000
anos de história tem sido provocante, e até citei neste post uma
reflexão do autor sobre os mitos e as ficções. Segundo o autor, um homo
sapiens conseguia dominar um grupo de, no máximo, 150 pessoas. Isso há
15.000 anos. A ferramenta desenvolvida para fazer com que pessoas desconhecidas
pudessem colaborar de forma eficaz em uma causa foi o que o autor chama de mito
ou ficção, ou seja, criar algo que as pessoas acreditassem e seguissem. Quanto
melhor fosse contada a história, mais seguidores convictos ela faria. Essas
entidades têm um poder enorme de colocar pessoas lutando pela sua causa e
consolidar um líder no poder. Foi uma estratégia genial, segundo o autor. Isso
foi determinante para o ser humano dominar o mundo e as outras espécies.
O autor acredita que as religiões
surgiram dessa necessidade. Bem mais recente, a criação das empresas também
representa outra ficção, ou seja, uma entidade criada para fazer com que
estranhos colaborem. Obviamente estou aqui fazendo a síntese da síntese desse
longo texto. Mas ao analisar o poder das religiões, das empresas, dos times de
futebol, entre outras entidades que constroem verdadeiros exércitos, fico me
perguntando: Essas entidades produziram mais o bem ou mais mal? Com certeza
foram fundamentais para o desenvolvimento do mundo, mas a pergunta não deixa de
ser provocante.
Tem muita gente criticando a religião
A ou B, o posicionamento político A ou B. A intolerância com o diferente é
total. Mas creio que a maioria se esquece da causa maior dos problemas – o
fanatismo.
Na minha visão, cada um de nós tem o
direito legítimo de seguir a causa que quiser, a orientação política que
quiser, a religião que quiser e o time de futebol que quiser. Lutar por essa
causa é bom e ajuda a dar sentido à vida. O problema é quando se perde o
controle, ou seja, quando deixamos de ser seguidores e passamos a ser
fanáticos. Nessa hora, quando perdemos o controle sobre o nosso desejo, viramos
um animal irracional. O fanatismo cega, não nos permite enxergar o outro e nos
deixa manipuláveis por outros fanáticos. O resultado? Isso que está aí. Não só
na França, mas na guerra da Síria, nos torcedores de times rivais se matando na
rua, no conflito eterno em Israel e em vários outros locais e dimensões
sociais. O problema não são as causas, mas o fanatismo por elas.
Nas empresas não é diferente. Algumas
pessoas perdem o controle sobre o que significa uma relação saudável no
trabalho. Algumas se matam pelas suas empresas, abdicam de ter uma vida
equilibrada ou da família para se dedicar exclusivamente ao trabalho. Outras,
compram os objetivos da empresa de forma tão cega e radical que esquecem de se
perguntar qual é a função social de tudo. Há uma diferença básica entre
comprometimento e fanatismo. O resultado do fanatismo? Está aí também. Empresas
que não respeitam as leis, que exploram as pessoas e o meio ambiente de forma
irresponsável. A causa? Mais uma vez, o fanatismo. Neste caso, o fanatismo pelo
lucro a qualquer custo.
Embora triste com
tudo o que vejo hoje, tenho dito aos meus alunos que este é um momento propício
para cada de nós pensar um pouco no sentido que está dando para cada dimensão
da sua vida e das suas ações. Será que não estou perdendo o controle sobre os
meus desejos? Será que não estou fanático por algo que, no fundo, não é bom?
Pense nisso. Defenda suas causas, mas sem fanatismo. Ele destrói mais do que
constrói. Até o próximo!
CEO da
Atmo Educação, Marcelo Veras é sócio e membro do conselho da Unità Educacional.
Professor de Marketing, Estratégia Empresarial e  Planejamento de Carreira
em cursos de MBA Executivos, possui experiência de 25 anos em empresas como
Rede Positivo, Souza Cruz, Claro, TIM, ESPM,  ESAMC, AYR Consulting, Unità
Educacional e Atmo Educação. Autor/Organizador dos livros “Métodos de Ensino
para Nativos Digitais” (Atlas, 2010) e “Gestão de Carreira e Competências”
(Atlas, 2014), é mediador do FAB – Future Advisory Board, grupo de CEOs da
Região de Campinas, que se reúne bimestralmente para discutir Futuro e
Tendências. Marcelo Veras é graduado em Engenharia Química, com Pós-Graduação
em Gestão de Produção, MBA Executivo em Marketing e em Gestão de Negócios, além
de Master em Tendências, Coolhunting e Gestão da Inovação.
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