NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM!

05 de novembro de 2015.
ARTIGO DA PROFESSORA LUCIA GENTIL
O que faz o coração
bater mais rápido, calor dentro do peito e no rosto, sentir o sangue correr nas
veias é uma das grandes buscas que leva o ser humano aos esportes radicais, ao
cinema, a se apaixonar. Enfim, a busca por sentir a si mesmo de tal forma que
estar vivo torna-se uma certeza. Ser agente transformador da realidade —
principalmente quando ela mostra a triste face do sofrimento humano — é outra
forma de sentir a vida pulsar dentro do peito.
Esse pulsar eu vejo
nos olhos dos alunos quando eles trabalham para auxiliar pessoas menos
favorecidas economicamente, crianças carentes de contato físico, creches de
prateleiras vazias, idosos que precisam de uma boa prosa, alguém que precisa de
um agasalho.
Nos bancos escolares,
o jovem aprende sobre as mazelas do mundo e do nosso país: guerras,
deterioração do meio ambiente, pobreza, desigualdade, fome e o sofrimento.
Deste banco, impotente, muitas vezes o aluno prefere não aprender aquilo, mesmo
se ariscando a ter que fazer recuperação para passar de ano. Ouvir sobre o
sofrimento sem poder fazer nada, semeia uma sensação de impotência (o que eu
posso fazer?), culpa (eu tenho, ele não), arrogância (sorte minha que eu tenho,
azar dele que não tem) e ausência de futuro. O sangue não pulsa, o coração não
bate rápido, não tem paixão: é a condição do passivo, do impotente.
Quando é oferecido ao
aluno a possibilidade de sair da condição passiva de ouvinte das mazelas do
mundo e ele se torna agente de transformação da realidade, o sangue volta a
pulsar, os olhos brilham, as bochechas ficam vermelhas e eles suam, riem, se
agitam, se prontificam a auxiliar, carregam caixas, fazem faxina, lixam
caixotes. E gostam. E querem mais. Porque se sentem vivos.
Após encontros com
crianças, jovens e idosos de instituições, sempre a frase que ouço é: vamos
voltar, né? E para isso não precisam de uma grande saga, de uma aventura no
Himalaia ou atravessar os mares. Precisam apenas sentir que podem ser ativos,
agentes, que podem mudar o mundo, pelo menos o mundo de alguém, com um abraço,
um olhar, uma palavra, um silencio respeitoso, brincadeiras, uma história,
alimentos, agasalhos.
E o melhor: tudo
aquilo que o professor ensinou a respeito das diferenças sociais, econômicas,
étnicas, religiosas e políticas entre as pessoas, sobre os muros que separam,
tornam apenas histórias de um mundo adulto que precisa ser curado de suas dores
e doenças que enrijecem e apagam a memória que, afinal, somos todos uma só
humanidade.
Quando acabou a II
Guerra Mundial, achamos por um momento que a humanidade e a fraternidade
prevaleceriam, que tínhamos aprendido a lição. Criamos a ONU e a Declaração dos
Direitos Humanos e nela escrevemos “todos os homens nascem livres e iguais”.
Depois, com o passar do tempo, aqueles sentimentos e a humanidade de cada um
tornaram-se apenas tema de livros didáticos e sala de aula.
Dar a oportunidade
para os jovens construírem pontes que ligam mundos tão próximos geograficamente
e tão distantes na sua realidade, dar a eles a oportunidade de sentir as
bochechas vermelhas e o suor correr por causas positivas, construtivas e
amorosas traz de novo a esperança, não só de um mundo melhor, mas de futuro.
O voluntariado
resgata a humanidade de cada um, aproxima os jovens de diferentes classes
sociais, cria laços, humaniza, abranda o coração, comove, faz chorar de emoção,
enternece, desvenda o outro, dá perspectiva e vontade de trabalhar por um mundo
melhor dentro de si e dentro do outro.
Não vale nota, não é
para passar de ano. Mas, quem já sentiu a emoção que servir proporciona, sempre
quer mais.
Profª Lúcia Gentil é
líder de projetos sociais do Colégio Progresso e professora de Geopolítica,
Atualidades e Geografia.
Compartilhe:
Facebook
Twitter
LinkedIn

Veja também

ESPECIALISTA LANÇA LIVRO SOBRE MANDATO COM GESTÃO INTELIGENTE

O especialista em administração pública e consultor em gestão pública, Charles Vinicius acaba de lançar …

Deixe uma resposta

Facebook
Twitter
LinkedIn