QUAL O FUTURO DA GOVERNANÇA GLOBAL NO SÉCULO XXI?

28 de setembro de 2015.

ARTIGO DA PROFESSORA MARIANNA LAMAS

As duas últimas décadas do século XX
foram fundamentais para a configuração de um novo paradigma para o século XXI.
Nelas vimos emergir um novo processo, uma nova ideologia, um novo modo de vida
– a Globalização – marcado pela expansão do capital numa escala global, tendo
como base uma revolução nas tecnologias de comunicação e transporte.
A Globalização deve ser entendida não
como um processo exclusivamente econômico, mas sim como um processo mais amplo
que envolve também as relações sociais, políticas, culturais e pessoais,
responsável pela transformação das relações entre sociedade e Estado. Como
consequência, assistimos a uma completa reconfiguração da soberania dos Estados
e suas relações no cenário internacional, fundando uma nova geopolítica.
Segundo Joan Nogué Font & Joan
Vicent Rufí a geopolítica contemporânea caracteriza-se pela coexistência
caótica de espaços controlados e funcionais ao capital e “terras incógnitas
– definidas como espaços regidos segundo lógicas internas não reconhecidas pelo
sistema mundial a que teoricamente pertencem. Para eles o “aparecimento
destas terras incógnitas, correspondente à sua exclusão dos fluxos de riqueza e
informação e ao seu nulo de interesse político e geoestratégico, é uma amostra
da cada vez maior polarização do mundo contemporâneo em termos de distribuição
da riqueza e bem-estar social.”
Questões antes restritas à escala
nacional – como o combate à pobreza, os problemas ambientais, os movimentos
sociais, as políticas econômicas, etc. – ultrapassam as fronteiras dos Estados
e se globalizam, trazendo à tona um novo desafio à governança. Nasce aí a
demanda por uma governança global, entendida como uma forma de ação
conjunta entre Estados e sociedades na busca de soluções e resultados para
problemas comuns, agora globais.
Nesse período acreditou-se que as
instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a
Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial (Bird), o G-8, o G-20,
dentre outras, fossem capazes de exercer tal governança. Todavia a crise dos
refugiados a que assistimos nos últimos dias, mas que já duram décadas, nos
revelam a completa incapacidade e insuficiência de tais instituições em exercer
esta governança, uma vez que possuem capacidades limitadas para enfrentar os
desafios do novo sistema mundial. Soma-se a isso a inobservância do princípio
de igualdade entre seus países-membros, como a atual configuração do Conselho
de Segurança da ONU.
Mais do que uma crise de refugiados,
assistimos à intensificação e redefinição dos fluxos migratórios, evidenciando
verdadeiros movimentos forçados de população que possuem correlação direta com
a proliferação de novas terras incógnitas, como é o caso da
Síria e de muitos países africanos.
Os processos de liberalização
característicos da Globalização revelam a contradição no tratamento das
questões econômicas e humanitárias. Se, por um lado, as fronteiras são fluidas
aos capitais, é evidente que os movimentos de pessoas ainda sofrem com elas.
A crise dos refugiados evidencia a
tensão existente entre a proteção dos direitos humanos universalmente
reconhecidos e a soberania estatal, e fundam um novo desafio à atual governança
global.
Tal “crise de humanidade”
nos revela que, para o século XXI, necessitamos de uma nova Globalização, mais
humana, solidária e verdadeiramente democrática, fundada em novos princípios de
governança que ainda necessitam ser desenhados e articulados às novas
realidades geopolíticas. Este é o maior desafio deste século!
Marianna Lamas é professora da Inova
Business School, é geógrafa e mestre em Geografia Política pelo Instituto de
Geociências da UNICAMP. Atua como Pesquisadora de Fluxos Culturais na TENDERE.
Atualmente é professora no curso de graduação em Relações Internacionais e no
MBA de Negócios Internacionais na Faculdade ESAMC e no Departamento de Eventos
da Faculdade de Tecnologia de Jundiaí (FATEC).
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