COLUNA DA PROFESSORA ROSA PERRELLA

30 de julho de 2014.
Gestão e Liderança para novos tempos
                                                                                                                Rosa Perrella
Para levar uma empresa adiante, hoje, com
todas as oportunidades e riscos, requer de qualquer gestor mais do que
competência técnica. Ele precisa de coragem e perseverança; precisa estimular
equipes a transformar o seu negócio naquilo que o cliente quer ou procura;
naquilo que o cliente, às vezes, nem sabe exatamente o que é.
Internamente à empresa, um líder cuida de
pessoas, de processos, de negócios. Cuida de si próprio, de sua postura e de
seu controle emocional. Seu cotidiano, normalmente, é repleto de reuniões,
acompanhamento de indicadores, atendimento às equipes e tomadas de decisão.
Tudo isso lhe traz bastante satisfação quando vai bem. No entanto, como há
múltiplas e diferenciadas situações, sugerem dúvidas e inseguranças a todo
momento.
Mesmo para um gestor capacitado e experiente.
Dúvidas geram perguntas: será que tomei a decisão correta? O quanto esta
decisão irá impactar os negócios da empresa?
Perguntas buscam respostas. Segundo Cortella
(2009), a inteligência está em ter dúvidas, porque é aí que se cresce.
Isso não é diferente quando se assume uma
posição de liderança!
Aliás, quanto mais subimos na pirâmide
organizacional, menos temos certezas. Afinal, lidamos com a incerteza o tempo
todo.
O anuário “Melhores e Maiores” de 2011, da
revista Exame, constatou novamente que a média da rentabilidade sobre o
patrimônio líquido das 150 Melhores Empresas para Trabalhar é cerca de 4 pontos
percentuais superior à média das 500 do anuário Melhores & Maiores da mesma
revista. Em anos anteriores, quando consideradas apenas as 10 melhores, essa
diferença passou de 7 pontos! A partir de 2007, estas empresas também
aumentaram os investimentos em treinamento e desenvolvimento, principalmente
devido à “invasão da geração Y” (16 a 30 anos ), cuja participação pulou de 34
para 45% de 2006 para 2008.
Este investimento, considerado seu retorno,
deveria ser naturalmente prioritário, mas refletindo um pouco podemos perceber
que existem sérias dificuldades que, por serem intangíveis, tendem a ser
negligenciadas.
Devido à escassez de mão de obra qualificada
em algumas áreas, um aspecto da principal dessas dificuldades foi abordado no
anuário de 2011. Nas contratações, as empresas passaram a abrir mão de algumas
características, especialmente relacionadas à formação técnicas. Hoje, a ênfase
é bem maior em “quem você é, o que você pensa, valoriza e como se relaciona” do
que em “quanto você sabe”. A surpresa é que isto já era considerado há décadas
por várias empresas multinacionais por uma razão razoavelmente simples:
comportamento é muito mais difícil de alterar, moldar, do que conhecimento
técnico.
Esta, como toda afirmação genérica, precisa
de condições de contorno, ou seja, precisa excluir exceções e carece de
análises individuais, porém podemos aprender, por exemplo, outros idiomas,
técnicas de programação, etc. Profundas barreiras emocionais ou inaptidões
podem dificultar enormemente.
A tecnologia, o acesso às informações e aos
mercados, está cada vez mais disponível a todos. Assim, variáveis intangíveis
como, a “vontade” do grupo, o prazer de fazer bem feito e o bem estar
individual, com certeza, farão parte do diferencial.
Intuitivamente percebemos isso no cotidiano,
pois, é muito mais “gostoso” lidar com empresas onde cada funcionário transmite
estar bem consigo mesmo e com seu trabalho.
Ressalto a grande dificuldade que impacta o
treinamento comportamental: alguns comportamentos podem ser alterados com
treinamento e resultados tangíveis em um prazo relativamente curto, outros não
podem! Estes precisam de prazos muito longos ou técnicos muito radicais para o
ambiente empresarial. Creio ser esta uma das principais dificuldades para
investimentos eficazes em treinamento comportamental.
Quem já ouviu a expressão “pau que nasce
torto, não tem jeito, morre torto”, e concorda com ela, talvez tenha
dificuldade em valorizar a Prece da Serenidade ( atribuída a Friedrich Oetinger
– 1702-82 e a Reinhold Nieburh – 1934 ): “ Deus, conceda-me serenidade para
aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar aquelas que posso e
sabedoria para conhecer a diferença”.
“Pau que nasce torto”, nasce com suas
características, porém, se dermos um nó em um broto de árvore não dá para
desfazê-lo na árvore depois de crescida. Ela poderá dar frutos, sementes que
gerarão árvores sem nós, mas morrerá com seu nó! Não somos vegetais, mas…
Apesar de não sermos determinísticos, ou
simplificando, para um mesmo estímulo a mesma reação, dentro de certas
condições de contorno, situações com fronteiras bem definidas, nós, humanos,
nos comportamos como sistemas determinísticos. Com fome buscamos comida; com
sede buscamos água. Sem detalhar mais, para conseguir necessidades básicas
aprendemos a “aderir” às regras de convivência e aos valores da sociedade a
qual pertencemos.
Além das básicas, as necessidades, de
pertencer ao grupo, de aconchego para diminuir a sensação desamparo, forjaram
elos para essa aderência. Em resumo, somos parcialmente programados e
previsíveis. Acontece que, simplificadamente, 
dependendo da maneira como essa aderência foi individualmente forjada,
nosso “broto” ficou com um nó ou mais nós. Tomar conhecimento deles é difícil,
envolve nosso lado emocional e, este lado parece gerar energia e direcionar
nossas ações.
O lado emocional elabora razões e
justificativas para comportamentos.
Investir no autoconhecimento pode começar com
a avaliação imparcial da nossa contribuição para os resultados das equipes às
quais pertencemos e também das atitudes das outras pessoas com relação a nós.
Pode ser gratificante tomar consciência da nossa realidade.
(Texto
comentado, extraído do livro Gestão e Liderança FGV Management – série Cademp
2011)
Rosa Perrella é consultora em gestão de
pessoas, coaching e mentoring organizacional, palestrante e professora nos
cursos de Pós Graduação e de Capacitação Gerencial na IBE FGV Campinas.
Especialista em gestão de lideranças e desenvolvimento de equipes.  Mestranda em Educação, formada em
Administração,  com  MBA em Desenvolvimento Humano de Gestores
pela IBE-FGV Campinas, além de Pós-graduação em Gestão Estratégica de Negócios,
Psicologia Transpessoal, Marketing Empresarial, Gestão de Pessoas e Negociação
Avançada. [email protected] / www.rosaperrella.com.br
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