COMUNIDADE CIENTÍFICA PARTICIPA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA

Nesta sexta-feira (25/08), cerca de 100 pesquisadores científicos se reuniram com representantes do Governo Estadual, diretores e coordenadores de diversos Institutos do Estado no Centro Experimental do Instituto Biológico de Campinas (SP) para uma audiência pública que discutiu a alienação de áreas de pesquisa, num total de mais de 600 hectares. Os imóveis correspondem a patrimônios dos Institutos de Zootecnia, Biológico e da Apta Regional – DDD, localizados em Araçatuba, Pindamonhangaba, Itapetininga, Itapeva, Tatuí, Nova Odessa e Campinas.RubensRizec

Na ocasião, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), representada pelo presidente Joaquim Adelino Azevedo Filho, manifestou sua preocupação com a alienação, ressaltando que este é apenas o início de um processo de vendas e desmonte do patrimônio da Pesquisa Científica conquistado em cem anos. “O Governo afirma que colocou à venda apenas 4% do nosso patrimônio e que está estudando as áreas que não estão sendo usadas para a Pesquisa, mas a questão é que sabemos que isso vai continuar acontecendo. Pode ser 4% este ano, 10% ano que vem e assim por diante. Vender o patrimônio do Estado e colocar nossas pesquisas em risco não é a saída”, admite Adelino.

Durante a audiência, além de dizer que as parcerias com a iniciativa privada para o custeio de pesquisas é um “caminho sem volta”, por meio dos NIT’s que estão sendo implementados pelo Governo, o subsecretário ainda chegou a sugerir aos pesquisadores que se alegrassem por estarem recebendo seus salários: “Seus colegas do Rio de Janeiro não estão”, comparou.

O pesquisador científico aposentado do Instituto Agronômico de Campinas, Carlos Jorge Rossetto, fez questão de participar da audiência e também se manifestou publicamente: “O Governo do Estado está desrespeitando a Constituição que garante a autonomia financeira, administrativa e patrimonial dos Institutos de Pesquisa. Os diretores que nos representam não foram escolhidos por lista tríplice, mas são escolhidos pelo Governo. Esta alienação para fazer caixa é algo absolutamente perigoso e a pesquisa está vivendo um momento realmente decadente. Se esta autonomia fosse respeitada, a verba desta venda seria totalmente revertida para os Institutos de Pesquisa e nós sabemos que não é isto que vai acontecer”, advertiu Rossetto.audiencia

O Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, está localizado na terceira região mais poluída do país, conforme Organização Mundial da Saúde de 2011. A cidade de Nova Odessa tem apenas 2% de remanescentes da floresta original, sendo que todo este percentual está em áreas internas do Instituto de Zootecnia, que o governo pretende alienar. Trata-se de uma das últimas áreas sem urbanização desta região, importantíssima em relação aos serviços ecossistêmicos para a sociedade. O IZ, inclusive, foi recentemente contemplado com R$ 3 milhões do Fundo Estadual de Interesses Difusos da Secretaria de Cidadania e Justiça para execução do projeto “Bioma IZ: uma proposta ambiental”, que visa a delimitação, recuperação e manutenção de extensas áreas de vegetações nativas, algumas remanescentes da Mata Atlântica e reflorestadas, além da implantação de sistemas integrados de produção animal para pesquisas científicas. O projeto ainda não foi executado.

Atualmente, as compensações ambientais efetuadas em matas ciliares, segundo a diretora do IZ, Renata Helena Branco Arnandes, têm recebido maior atenção dentro da pesquisa. “Isso se dá devido à importância ecológica da manutenção da biodiversidade e de corredores biológicos, além da importância da manutenção da qualidade hidrológica dos mananciais, o que salienta a ideia de que o IZ capta água de manancial reflorestado”, afirma Renata.

A Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga, cuja principal linha de pesquisa é a ovinocultura, desenvolve trabalhos científicos na região há 58 anos, beneficiando a sociedade com o desenvolvimento de tecnologias para agricultura familiar. A área a ser alienada hoje sedia uma pesquisa de cana-de-açúcar em um projeto de arrendamento, que arrecada em torno de R$100.000,00 anuais. Esses recursos têm sido aplicados nos últimos anos para o desenvolvimento dos projetos de pesquisas com compras de equipamentos e insumos para experimentos, bem como para a alimentação do rebanho experimental e sua manutenção, manutenção da própria unidade com cercas elétricas, galpões, confecção de silagem para alimentação, compra de equipamentos, reforma no prédio, na hospedaria e nos galpões experimentais. “O Governo afirma que todos os projetos de pesquisa serão transferidos e não encerrados. Porém, nós estamos mostrando que essas possíveis transferências trarão prejuízos irreparáveis para as pesquisas que vem sendo realizadas”, acrescenta Joaquim.

Atualmente a UPD de Itapeva possui projetos registrados de atividade de pesquisa e validação de tecnologia para transferir para os pequenos suinocultores, como inseminação artificial; manejo sustentável; nutrição e melhoramento de suínos; comportamento animal; bem-estar animal; desempenho; tratamento de dejetos; experimentos com alimentos alternativos e utilização de soja grão tostada no preparo de rações. A propriedade da Unidade, recebida como doação em 1941, foi originalmente criada para o desenvolvimento da suinocultura no Estado de São Paulo, e representa hoje, um Centro de Referência no estudo, desenvolvimento e difusão de tecnologias nessa área, mantendo rebanho de alto valor genético que é utilizado para as mais diversas atividades.

A UPD de Itapeva também mantém, atualmente, parceria com os produtores, sindicatos e associações, o que a caracteriza como uma área de atividade predominante da agricultura familiar. A Unidade mantem preservada sua área de proteção ambiental (22,23 hectares), composta pelo rio, corpos d’água, vegetação nativa remanescente e reflorestamento.

Por fim, o Polo Regional do Vale do Paraiba, de Pindamonhangaba, possui diversos importantes projetos ligados à pecuária, além de novos cultivares de arroz irrigado para o Vale do Paraíba, com elevado potencial produtivo, grãos de boa culinária e de maior valor agregado, bem como a diversificação da produção dos solos de várzea no período do verão, atendendo os consumidor com novos tipos de arroz. Entre os projetos em andamento, o programa reprodutivo utilizando inseminação artificial em tempo fixo seguido de ressincronização em fêmeas bovinas leiteiras se destaca. Além dele, também são de fundamental importância a o programa de implantação de um sistema demonstrativo de produção de gado de corte no Vale do Paraíba, o melhoramento genético do arroz e o manejo cultural do arroz. Em 70 anos de atividade, foram selecionadas e recomendadas mais de 20 cultivares de arroz, o que caracteriza verdadeiramente uma escala evolutiva nos aspectos da performance produtiva e qualidades de grãos, que se modificaram em conformidade com as exigências e perspectivas do mercado.

Foto 1 – Subsecretário da Agricultura e Abastecimento, Rubens Rizek.

Foto 2 – Audiência com participação da comunidade científica.

Crédito: Luciana Barros.

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