CRISE ECONÔMICA ATINGE EMPRESAS IMPORTADORAS DE BENS DE CAPITAL VOLTADAS À ÁREA AUTOMOTIVA E GERA DESEMPREGO NO SETOR

23 de setembro de 2015.
Dados da Fundação
Centro de Estudos do Comércio Exterior – FUNCEX apontam que as importações
totais no Brasil somaram US$ 12,8 bilhões no mês de agosto, o que representa
uma baixa de 33,7% em comparação com o mesmo mês em 2014. A crescente
desvalorização cambial e a fraca atividade doméstica colaboraram para uma
expressiva queda de 21,3% nas importações totais no acumulado do ano até
agosto, que somaram US$ 121,1 bilhões.
Principalmente por
conta da redução das compras externas de máquinas e equipamentos de uso
industrial e geral e de material e equipamentos elétricos, a queda na
importação de bens de capital foi de 17,8% até agosto de 2015.
Para o diretor da
filial brasileira da Junker (indústria alemã líder mundial no mercado de
fabricação de retíficas de alta velocidade com rebolo CBN), Dirk Huber, a atual
crise política, além dos constantes escândalos de corrupção, são os
responsáveis por este cenário. Seguindo a mesma linha, o diretor geral da
japonesa Makino do Brasil (líder mundial em centros de usinagem CNC de alta
tecnologia), Carlos Eduardo Ibrahim, afirma que a maior parte desta retração se
dá devido a uma crise de confiabilidade dos empresários brasileiros na política
econômica de nosso governo. “A falta de uma política clara de
investimentos e liberação de linhas de crédito, por exemplo, fazem com que os empresários
posterguem ao máximo seus investimentos”, esclarece.
João Carlos Visetti,
diretor-presidente da Trumpf do Brasil (grupo com sede na Alemanha, líder
mundial na fabricação de máquinas-ferramenta para processamento de corte,
dobra, puncionamento e gravação de metais flexíveis com o uso da tecnologia
laser), diz que, semelhante à indústria nacional, os importados vêm sofrendo
com a falta de demanda. “Do lado positivo, temos a liderança tecnológica e
maior produtividade do que equipamentos fabricados por outras empresas; por
outro lado, a incerteza e os juros altos fazem com que alguns clientes foquem
no preço e não na relação custo-benefício, o Total cost of owner ship”,
esclarece. Cerca de 95% dos produtos que a trazemos para o Brasil não têm
similar nacional. Arrisco a dizer que 100%”, diz Visetti.
Além de citar os
mesmos problemas, o diretor técnico do Grupo Bener (importadora de
máquinas-ferramenta), Ricardo Lerner, comenta que a desindustrialização
acentuada que o Brasil vem sofrendo nos últimos anos é fator fundamental que
colabora com a baixa nas importações de máquinas, já que as empresas estão
deixando de comprar.
A subsidiária
brasileira da Trumpf, que tem como clientes principais grandes montadoras de
carro, entre elas Volkswagen, Ford e Fiat, fechou o ano fiscal em 30 de junho
com uma queda de 30% em sua receita, sem perspectiva de melhora.
Toda essa retração
está afetando diretamente as indústrias. Na Junker do Brasil houve uma redução
de, aproximadamente, 35% nas importações no primeiro semestre de 2015 se
comparado com o mesmo período do ano passado, segundo o diretor, Dirk Huber.
“Somos uma
importadora de máquinas e equipamentos e, claro, estamos sofremos com a
queda”, concorda o diretor do Grupo Bener, que teve uma queda de 45% nas
importações no primeiro semestre de 2015 ante igual período de 2014. Para
Lerner, o grande problema desta crise econômica “é que ela não oferece a
menor perspectiva de melhora”.
Na Makino do
Brasil houve uma queda brusca na venda de máquinas high tech de valores mais
altos, assim como também aponta dados da Receita Federal do setor.  As máquinas que ainda estão sendo importadas
são de baixo valor agregado, ou seja, de média para baixa tecnologia.
Dados da Receita
Federal mostram que o volume de vendas do segmento diminuiu muito neste
primeiro semestre de 2015 (de 30% a 40%) e o resultado destas vendas baixas
será mostrado nas importações do segundo semestre de 2015, que ainda não está
disponível. Vale salientar que a maioria das máquinas que entraram neste
primeiro semestre no Brasil foram adquiridas no segundo semestre de 2014.
O Departamento de
Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp) divulgou uma pesquisa revelando que a indústria paulista
deverá demitir cerca de 250 mil funcionários até o final de 2015, já levando em
conta as 25 mil demissões em agosto. Só o setor de máquinas e equipamentos
fechou 4.865 postos de trabalho entre julho e agosto.
Segundo a Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as montadoras, que sofrem
com a falta de vendas e pátios lotados, já cortaram mais de 11 mil empregos até
agosto e mantêm 27 mil funcionários em férias coletivas ou em lay off.
Como os principais
compradores das empresas citadas são montadoras, o setor de máquinas e
ferramentas sofre com a queda nas vendas de máquinas, sendo também obrigadas a
demitir. Ricardo Lerner, da Bener, que vende para todas as empresas da área
automobilística e também para sua cadeia de fornecedores, explica que já sentia
a chegada da crise desde meados de 2013. “De lá para cá tivemos uma
redução de mais de 50% de nosso pessoal”.
Demitir ajuda a
diminuir gastos, mas, para Dirk Huber, da Junker do Brasil, não é uma boa solução,
poisse pode perder colaboradores altamente qualificados, cujo treinamento foi
dispendioso para a empresa. As vendas paraao setor automotivo representam 80%
dos negócios da Junker.
Carlos Eduardo
Ibrahim, da Makino do Brasil, que fornece centro de usinagens horizontais para
indústria de autopeças e estas empresas distribuem seus produtos diretamente às
montadoras, esclarece que o setor automobilístico representava cerca de 60% a
70% das vendas de máquinas e equipamentos no Brasil. Hoje este número está em
cerca de 30%.
Segundo o executivo
da Makino, quando se fala de importadores que são filiais de grandes empresas
internacionais, entre elas americana, alemã, japonesa etc., este índice é
aceitável, mas quando se trata de importadores independentes, ou seja, empresas
nacionais que representam empresas internacionais, muitas delas estão em sérias
dificuldades financeiras.
As empresas estão
procurando opções alternativas para driblar as dificuldades. A Junker tenta
aquecer as vendas na procura de novas aplicações e mercados. Já a Makino do
Brasil segue segurando investimentos desnecessários, reduzindo custos e focando
em negócios de curto prazo. A Bener investe em uma ampla de produtos que
possibilite acessar o maior número de segmentos, ao mesmo tempo em que mantém
austeridade com gastos e custos da empresa.
Para Visetti, da
Trumpf, os impostos no Brasil tornam a situação ainda mais greve. O executivo
esclarece que esse é o ponto mais complicado, pois variam de Estado para Estado
e também entre segmentos industriais (ICMS), demandando tempo e recursos da
empresa. “Fora isso, todo o processo de importação é burocrático. O tempo
de liberação de uma peça ou máquina é completamente imprevisível”. De
acordo com ele, esses fatores dificultam o acesso da indústria nacional à
tecnologia de ponta, que precisa melhorar em muito sua produtividade e
competitividade.
Apesar da crise, os
empresários permanecem esperançosos, mas não enxergam grandes mudanças para
2016. “O grande problema dessa crise econômica é que ela não nos dá
perspectivas de melhora”, afirma Lerner, da Bener.

“Para que essa
situação melhore, deveria haver ações governamentais para que o povo e o
empresariado brasileiro possam  ter
novamente confiança no governo no tocante à estabilidade financeira e
política”, avalia Dirk Huber, diretor da Junker do Brasil.

Foto 1 – João Carlos Visetti, diretor-presidente da Trumpf do Brasil.
Foto 2 – Diretor da filial brasileira da Junker, Dirk Huber.
Foto 3 – Diretor técnico do Grupo Bener, Ricardo Lerner.
Crédito: Divulgação.

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